segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Um Almanaque com "brinde"

O Almanaque de Lembranças foi publicado pela 1ª vez em Paris, em 1850, pelas mãos de Alexandre Magno de Castilho, irmão de Feliciano Castilho. Em 1855, isto é, no 5º ano, passou a destinar-se também ao Brasil, tendo mudado o nome para Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. Era publicado anualmente.

Não se destinando a um público exclusivamente masculino teve a participação de várias senhoras entre as quais Guiomar de Noronha Torrezão, o que lhe viria a dar experiência para a criação de um outro projecto: o Almanach das Senhoras.

O conteúdo inicial do Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro incluía um calendário, com o signo correspondente a cada mês, informações religiosas (santos do dia, comemorações da Igreja, etc.); sociais (festas nacionais, aniversários da Casa Real, feiras e mercados), para além de outras.

Em 1872, e até 1932, a publicação viu o seu título alterado para Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. Este Novo Almanaque dividia os temas em duas secções: a inicial de carácter mais geral, que incluía um obituário, e a segunda com literatura variada. Foi o caso deste exemplar de 1917 que começava com uma “biographia do fallecido escriptor portuguez” Ramalho Ortigão, acompanhada de uma fotografia.

A edição era já publicada em Lisboa pela Parceria António Maria Pereira e, tal como as anteriores, incluía uma lista dos livros publicados por esta livraria editora.

O que tem de interessante este exemplar é a presença de duas folhas de maiores dimensões, coladas e dobradas e que se tratava de uma forma de divulgação do vendedor do Almanach, neste caso M. C. Gomes Andrade, com loja em Almeirim. Um carimbo aposto na folha de rosto confirma a proveniência e informa-nos que a casa foi fundada em 1910. Funcionava como livraria e papelaria, mas era também uma mercearia com venda de produtos “de primeira escolha”. Entre estes destacavam “Chás, Cafés e Cacaus das mais recomendadas marcas; Sopas Knorr e Juliana; Pastéis para recheio e Bolacha inglesas e Cevada do Cairo”. Uma variedade realmente surpreendente. 

Nas restantes páginas adicionadas constava uma lista dos livros em stock, para venda, com os respectivos preços.

Perante este achado, com um acrescento tão informativo do vendedor, posso considerar que se trata de um pequeno Almanaque com “brinde”.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Votos de Feliz Natal

 

Os votos de Feliz Natal vêm este ano por intermédio de umas belas gravuras a talho-doce, extraídas de um livro de 1660. A obra intitulada Figures des histoires de la Saincte Bible, accompagnees de briefs discours, contenans la plus grande partie des histoires sacrées du Vieil & Nouveau Testament, & des oeuvres admirables du Dieu vivant, …, foi publicada várias vezes a partir de 1614.

Esta edição foi publicada em Paris por Guillame le Bé e os desenhos, em meia página, são atribuídos a Jean CousinAs gravuras, num total de 268, não podiam ser mais belas e, delas escolhi as mais apropriadas para a época. Quanto às mesas de banquete surgirão numa outra oportunidade.

Um Feliz Natal para todos!

domingo, 17 de dezembro de 2023

Lançamento em Lisboa: Receitas Particulares e Curiosas

 

É já na próxima quarta-feira, dia 20 de Dezembro, às 17 horas o lançamento do livro baseado em manuscritos culinários inéditos, do século XIX, de uma família da região do Norte. A apresentação será feita pela minha amiga Prof. Drª Ana Isabel Buescu que já nos habituou a excelentes análises. 

Eu sei que o dia e a hora não são bons, mas por favor interrompam as compras de Natal e programem um tempo para estarem presentes. A apresentação será em Campo de Ourique, no antigo cinema Europa, onde agora existe uma Biblioteca da CML.

O livro está lindíssimo e estou certa de que vão gostar.

Será um prazer rever velhos amigos e também fazer novos amigos, como já aconteceu.

Até lá!

 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Volúpia. A nona Arte: a gastronomia

  

Não vou falar sobre esta importante obra de Albino Forjaz Sampaio, tão precoce nos conceitos de gastronomia no nosso país.

Publicada pela 1ª vez em 1939 é interessantíssima, sobretudo no que respeita à relação entre a Gastronomia e a Literatura.

Mas hoje foco-me apenas neste pequeno excerto, acerca de livros antigos de dietética escritos por médicos: «Os médicos têm uma certa tendência para a gastronomia».

Relembrando o Fernando Pessa. “E esta, hein?”.

 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Prémio: “Gourmand 2023”

Acabo de tomar  conhecimento de que o livro Receitas Particulares e Curiosas ganhou um prémio no Gourmand Awards, deste ano, que teve lugar no Dubai.

Inserido na categoria History and Cookbooks, ficou em 4ª lugar.

Fico contente, sempre é um prémio internacional, embora isso não altere nada as coisas. Como costumo dizer, apesar de tudo, é melhor ter do que não ter.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Lançamento do livro "Receitas Particulares e Curiosas"

Anda falta um mês. O lançamento será só no dia 20 de Dezembro, mas como já tenho o convite, optei por o divulgar. Podem pôr nas vossas agendas uma anotação, se tencionarem ir.

Lá nos encontraremos em boa companhia.

 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A receita das Tabafeias de Bragança

 

A receita reproduzida tem a data de Novembro de 1939 e não está assinada, mas atrevo-me a pensar que poderia ser do conhecimento do Abade de Baçal. A razão é simples: encontrava-se entre os papéis de um colaborador directo do Abade de Baçal, Raul Teixeira, que com ele trabalhou e o seguiu no cargo de Director do Museu de Bragança (1935-1955).

Não quero aqui entrar em pormenores, mas é sabido o gosto do Padre Francisco Manuel Alves (1865-1943), mais conhecido por Abade de Baçal, que sobre este enchido escreveu que estas eram:” fabricadas de Outubro a Fevereiro” a atestar a sua sazonalidade. Note-se que esta folha data do mês de Novembro. Não mencionava, contudo, a sua receita, sendo desconhecido se lhe era familiar o seu modo de confecção. De resto as receitas divulgadas são todas posteriores, o que torna ainda mais interessante este documento.

Recordo Armando Fernandes, em artigo sobre este tema, onde mencionava a obra de Paul Plantier, O Cozinheiro dos Cozinheiros, (1870) que, no capítulo de “Fumeiro de Carne de Porco à Transmontana”, aludia às tobafadas. Lamento aqui a morte desse meu amigo, com quem tive tão agradáveis conversas e que tanto gostaria de ter tido conhecimento da receita agora divulgada. Até porque se consultarmos o referido livro constatamos que em nada são coincidentes as duas receitas, pelo que não poderiam ser sinónimos.

Parece provável que este enchido fosse bem mais antigo.  Uma das personagens de Garcia de Resende, Nuno Pereira, no Cancioneiro Geral, de 1516,[1] dirigindo-se ao Doutor Mestre Rodrigo dizia: Eu comi atabafea…” Não podemos saber a que correspondia então, mas pode dizer-se que se manteve um enchido muito apreciado pelo menos era-o no final do século XIX e início do século XX. Dele dizia Trindade Coelho:” O meu derriço é a tabafeia, que até no nome gosto dela!“, em crónica publicada em O Reporter, em 26 em Janeiro de 1897. Também Leite de Vasconcelos, sabia do que falava quando se referiu a ela na Etnografia Portuguesa. Acerca da tabafeia afirmava: “É, em Bragança, uma espécie de chouriço feito de dobrada, galinha, pimento, etc.”.

Dr. Raúl Teixeira. Pintura existente no Museu de Abade de Baçal

Raul Teixeira numa carta dirigida a Abel Salazar, datada de 26 de Novembro de 1934 escrevia: ”Por este correio segue, dirigida à Senhora sua Irmã, uma encomenda com tabafeias, que é como se chamam as alheiras a que aí dão foros de especialidade bragançana. Essas alheiras têm tanto de Bragança como eu de santo. A especialidade d’aqui – convém acentuar, para que a História o registe – é a tabafeia”.

Casa Comum - Casa Museu Abel Salazar. Pasta: 05404.083

Raul Teixeira expressava nesta carta a confusão que então já alguns faziam entre os dois mais conhecidos enchidos da região. O que se passou nos anos seguintes, em que se salienta a ausência de receitas de tabafeia, nos livros de culinária, como foi o caso de Olleboma, em ambos os seus livros, incluindo a Culinária Portuguesa, ou na Cozinha do Mundo Português, onde também não a encontrei apesar de afirmações em contrário, justificam as confusões sobre do que se tratava realmente.

Não sendo especialista em comida transmontana, penso que a importância desta receita é enorme. Por ela se constata como é diferente a receita de tabafeia, onde predomina a dobrada, da de alheira, com predomínio de aves e, por consequência, não podem ser usadas como sinónimo. Aliás os enchidos deste tipo, que vão a concurso localmente, mostram-nos como é confusa a ideia, tanto dos jurados como dos concorrentes.

Fica aqui disponível a receita para que alguém da região a possa experimentar e restituir à tradição local este enchido que já foi tão apreciado. Fico a aguardar notícias e, já agora, uma verdadeira tabafeia.


[1] GARCIA DE RESENDE. Cancioneiro Geral. Fixação do texto e estudo por Aida Fernanda Dias. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Vol. III.1990.

 

sábado, 11 de novembro de 2023

Feliz Dia de São Martinho

 As tradicionais castanhas assadas este ano foram acompanhadas por Licor de Cherovia.

Foi a primeira vez que experimentei, substituindo a jeropiga, mas como confrade da Confraria da Cherovia, reconheço que não podia ser mais adaptado. Muito agradável. Recomendo.



domingo, 29 de outubro de 2023

A Fábrica Popular de Bolachas

 

Durante o século XIX os portugueses descobriram as bolachas e biscoitos, feitos industrialmente, pela mão dos ingleses. A indústria de bolachas começou em Inglaterra com a criação da fábrica Huntley & Palmers, em 1822. Outras se lhe seguiram e várias fábricas começaram a vender o seu produto em Portugal, distribuído por diversas casas comerciais, em atrativas caixas coloridas, geralmente cúbicas, de grandes dimensões.

No que respeita à fábrica aqui mencionada, de que mostramos esta bela caixa, a Fábrica Popular de Bolachas e Biscoitos, foi inicialmente dirigida por MM. Gonçalves e Silva. Fundada em 1890 tinha a sua frente um homem experiente que tinha já trabalhado noutra fábrica do mesmo tipo, provavelmente na Fábrica da Pampulha, fundada em 1870.[1]

Em 1908 mudou as instalações para terreno próprio em Lisboa, na Rua da Junqueira, Nº 288, num edifício que hoje já não existe, e que se encontra documentado na tampa desta caixa e em vários anúncios publicitários.

Segundo um artigo de jornal da autoria de H.  Léon,[2] que visitou Portugal, nela eram empregues as melhores farinhas.  Na sua constituição entravam também manteiga, ovos e perfumes (aromas). Feita a massa, era achatada com rolos, e passava depois a aparelhos especiais (franceses e ingleses) que cortavam automaticamente as bolachas e biscoitos, que iam depois ao forno.

Eram em seguida colocadas em latas de folha-de-flandres, ornamentadas “com lindas etiquetas”. Quanto às variedades eram descritas cerca de 91, sendo as mais conhecidas as de Araruta, Combinação (30 variedades); Maria e Patriotas. Estas últimas mostravam o retrato de um personagem importante de Portugal, em pontilhado.

0 Anunciador Artístico 1913
Em 1910 encontramos publicidade como sendo a fábrica, nessa data, de José Manuel da Silva e dizendo que era a única no país movida a electricidade. Disponibilizava então já 300 variedades de bolachas. Seguindo o espírito republicano apresentava nas novas variedades: Homenagem às Câmaras Republicanas; Homenagem às Cantinas Escolares; Crise, entre outras. 

Imagem do IPPAR. Foto de Henrique Ruas. 
Saliente-se o modelo A portuguesa, em Homenagem ao hino nacional e a Alfredo Keil. Mantinham, contudo, as variantes mais comuns: Maria; Torrada e Silva.

O grafismo republicano nas folhas usada para envolver as caixas de bolachas, é muito interessante e possuo uma bela colecção que apresentarei oportunamente. Para já ficamos com estas belas imagens.



[1] PEREIRA, A.M. 2023 (no prelo). Receitas Particulares e Curiosas: 171-172.

[2] Artigo no jornal Le Panthéon de l'industrie, de 1 de Agosto de 1892.

sábado, 14 de outubro de 2023

Bonecas recortadas


 Não consigo recordar-me se brinquei com bonecas de papel recortadas, o que torna pouco provável que tal tenha acontecido. Mas sei que os livros infantis com figuras de meninas e meninos, com os seus múltiplos fatinhos, que se cortavam laboriosamente com uma pequena tesoura e que permitiam depois, através de pequenas aletas, adaptá-las ao corpo das figuras, exerceram sempre sobre mim uma grande atracção. 
Figura recortada e aguarelada. Laço em papel

Fui-os juntando: os livros e as peças. Num dossier foram, a pouco e pouco, entrando as várias imagens. Na primeira metade do século XX usaram-se publicações próprias para esse fim, adaptadas ao gosto e modas de então.
Mas comecei a perceber que no século XIX, mesmo famílias abastadas, usavam bonecas recortadas de revistas ou modelos feitos de raiz. Usando modelos já conhecidos ou copiados de revistas eram desenhados a papel e os vestidos eram depois pintados, a lápis ou com aguarelas. 
Alguns vestidos, como os de baile, apresentavam mesmo purpurinas coladas. Num último achado, juntamente com as bonecas vinham amostras de papel de embrulho, que permitiam uma outra variante que era fazer os vestidos com os padrões desse papel. Nalguns casos serviam apenas de base, noutros, sobretudo nas cores mais claras, eram desenhados pormenores por cima. 
Mas o mais interessante foi encontrar papéis que tinham sido forros de envelopes de carta. Esses forros eram habitualmente muito discretos, mas ao mesmo tempo encantadores. Feitos de papel muito fino elevavam a categoria da correspondência, sendo usados em situações de maior cerimónia. Que tivessem sido reutilizados para fazer vestidos de bonecas, nunca tal me ocorrera. 
Em cima vestido feito com papel de embrulho e desenho aguarelado e picotado e em baixo vestidos feitos com forro de envelope de carta

 Gosto de descobrir coisas simples do passado, de imaginar a mãe a orientar a filha nesse trabalho, numa forma de reciclagem tão intuitiva. Era um tempo em que não existia a abundância de hoje, em que tudo se valorizava. Não se tratava de reciclar, apesar da expressão antes empregue, mas apenas de aproveitar o que havia ao dispor. Nesta sociedade de excesso de consumo ficam alguns exemplos que nos transportam para uma época com outras noções de brincadeira, de ocupação de tempo e de reutilização de materiais.

Papel de embrulho em cima e em baixo forros de envelopes.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

O queijo da Serra da Estrela

 

Imagem tirada da internet

Na última semana os jornais noticiaram que 30% do queijo da Serra da Estrela (DOP) acaba dentro dos pastéis de bacalhau.

É caso para dizer: “E anda um pai a criar um filho para isto”.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

A Confraria da Cherovia

 

Falando à antiga, cresceram-me os dentes a comer cherovia. Em Portugal, é apenas na região da Covilhã que cresce esta raiz (Pastinaca sativa), classificada definitivamente por Lineu, em 1753, no livro Species Plantarum. Até então existiam muitas confusões entre esta e a cenoura, sobretudo numa época com menos uniformidade desta última. As duas eram "raízes" e por isso mesmo desprezadas na Idade Média.

As cherovias surgem pela primeira vez num livro de culinária em 1450. Maestro Martino da Como, dá uma receita de cherovias fritas no livro De honeste voluptate. Outros se lhe seguem. Durante a Renascença foi recuperada, para cair mais tarde no abandono, substituída pela batata.

Fico por aqui na sua história. Este texto é uma parte da comunicação que fiz durante a minha entronização como confrade de honra da Confraria da Cherovia e da Panela no Forno, na Covilhã, no passado dia 28 de Setembro.

Aveludado de cherovia
No juramento prometia-se divulgar estes produtos característicos da cidade. Cá estou a fazê-lo, embora o meu empenho seja sobretudo dirigido à Pastinaca.  

Panela no forno
Nos últimos tempos tem sido descoberta pelo cozinheiros e foram criadas novas receitas. Aqui lhes mostro a ementa do jantar que tivemos no restaurante A Laranjinha, referência a um antigo jogo com bolas, onde comemos muito bem.

Sobremesa: Imperador de cherovia e creme inglês
A acompanhar este evento houve três dias de festejos que incluíram uma feira onde se podia comer a cherovia nas suas variantes e outros sabores da região, como o famoso pastel de molho, de que falei há já uns anos.

Já acabou, mas para o ano há mais festa, novamente em Setembro. Não percam!

domingo, 17 de setembro de 2023

Livro Luís de Sttau Monteiro Gastrónomo na Covilhã

 Durante o festival da Cherovia, na Covilhã, irei apresentar o meu último livro.

Remete-me para recordações da minha adolescência na Covilhã, onde descobri a obra de Luís Sttau Monteiro, pela primeira vez, na extinta Livraria Nacional.

Apareçam!


quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Brincar às casinhas

  

Podia apresentar qualquer um dos conjuntos em Museu Virtual, mas a associação dos dois fazia-me mais sentido. Vieram de locais diferentes, mas de repente percebi a sua semelhança.

O pequeno cesto de piquenique, em vime, contém um serviço de brincar para chá, com quatro chávenas, bule, açucareiro, leiteira e quatro colheres monumentais em relação aos restantes objectos. Mas isso não é importante porque sabemos que estamos no reino do “faz de conta”, tão apreciado pelas crianças.

Já o serviço de adultos é igualmente para chá. Aqui apenas se apresenta o bule e o açucareiro, mas tenho ideia de que existem ainda as chávenas respectivas, vindas de um outro local. O serviço, em porcelana, é da Fábrica da Vista Alegre e apresenta a marca VA Portugal, em verde, que corresponde ao período de 1924-1947.

O modelo, conhecido por “bolas”, teve bastante aceitação no período Art Deco português, provavelmente pela alegria inovadora que transmitia. Terá servido de inspiração para o pequeno serviço infantil e reuniram-se agora.

 

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Receitas antigas


  Ao organizar um conjunto de receitas antigas encontrei no meio das folhas soltas um conjunto de 8 pequenos papéis amarelados e partidos.

Pensei que se tratava de pequenas receitas em dois pedaços, mas quando comecei a colá-las percebi que era uma folha grande partida. Como de costume esqueci-me de fotografá-las antes de iniciar o restauro e não posso dar uma ideia do estado inicial.

O mau estado do papel e as manchas de doce faziam as folhas parecer mais antigas, mas afinal trata-se de receitas de início do século XX, por já estarem escritas com o sistema métrico actual. Ainda assim muito interessantes e provavelmente de origem muito anterior.

Das receitas constam: os Ovos Brancos; os Ovos Reais; [Rebuçados de ovos]; Bolos de D. Christina Cruz; Puding de Queijo; Bolos de Londres e um Bolo de ??? (não consegui perceber o nome).

Imprimi as folhas e consegui escrever por cima nas lacunas e locais menos nítidos.

Aqui fica o resultado do meu trabalho

 

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A Água do Mouchão da Póvoa

  

Primeiro apareceu-me uma publicidade enorme, às águas referidas, num jornal “O Distrito de Portalegre”, num número festivo, de 1912.[1] Logo no dia seguinte surge um postal com publicidade às mesmas.

Confesso que embora já possa ter visto alguma publicidade não me diziam nada. Tinha que as pesquisar. E, surpresa, como elas estavam aqui tão perto.

 

As águas do Mouchão da Póvoa, situavam-se no concelho de Vila Franca de Xira e foram concessionadas à Sociedade do Mouchão da Póvoa por alvará de 1 de Novembro de 1910. Mas primeiro há que explicar que os mouchões são as ilhotas do Tejo e que esta, concretamente, era a maior. Era um local importante com terrenos agrícolas férteis e ancoradouro para muitas aves aquáticas invernantes.

Em Abril de 2016, deu-se o rompimento de um dique no Mouchão da Póvoa. Várias tentativas de entidades diversificadas e até mesmo os próprios pescadores tentaram resolver o problema. Em vão. O terreno era privado e nada foi feito. Adélia Gominho, autarca em Vila Franca de Xira, entre outros, chamou à atenção para o aumento da salinização das águas muitos quilómetros rio adentro, com consequências futuras também na agricultura de proximidade. A extensão do dique destruído foi aumentando, as casas e os terrenos foram-se afundando e a água do mar misturou-se com a salobra. O mouchão da Póvoa está neste momento quase submerso.


Nunca existiram termas, propriamente ditas, mas uma fonte de água captada num poço artesiano com 46 metros de profundidade e ao lado uma oficina de engarrafamento. Situada na ponta sul do mouchão, a instalação da nascente da outrora famosa Água Minero Medicinal do Mouchão da Póvoa foi abandonada em Abril de 1951. Actualmente apresenta-se tudo em estado de ruína.

De acordo com a publicidade da época, esta água tinha indicação para tratamento de úlceras da pele e mucosas, eczemas e todas as doenças da pele, inflamações da boca, olhos e garganta, etc.  E, para acentuar as suas capacidades curativas, vendia-se apenas nas farmácias e drogarias.

No passado, foi distinguida com a medalha de ouro nas exposições mundiais de Londres e Roma, em 1913, e em 1915 no Panamá. Hoje apenas se podem encontrar as antigas garrafas e manifestações da actividade publicitária a enaltecer as suas qualidades.  

 Mas estes vestígios alertam-nos também para um desastre ecológico, mesmo às portas de Lisboa, que ignoramos todos. Vejam então este filme, para se inteirarem melhor.

 https://cnnportugal.iol.pt/rio-tejo/mouchao-da-povoa/exclusivo-maior-ilha-do-tejo-em-risco-promessas-do-governo-nunca-sairam-do-papel/20230117/63c5eb950cf2c84d7fc3851d



[1] O periódico O Distrito de Portalegre foi fundado a 27 de Abril de 1884 e durou até 2010.