Há já algum tempo que me
apetecia escrever uma rubrica intitulada “Encontros felizes”, onde pudesse falar sobre
coisas simples que nos dão prazer.
Foi hoje a vez de falar sobre
um livro simples que noutras mãos teria passado despercebido. Tive a sorte de
me ter calhado uma edição belíssima forrada a chita preta com flores, que diríamos
de gosto feminino, com os rótulos em prateado e as letras impressas em azul. No
centro vem colada uma gravura, quase como um cromo colorido, com um barco de pescadores
a entrar no mar.
Não encontrei edições idênticas e as poucas que vi, apresentam
uma capa branca com a gravura impressa, o que me faz pensar numa edição
especial, embora tal não seja mencionado. Publicado em 1933, é uma edição de
autor que, como eu bem sei, permite sempre outras liberdades que não são
aceites pelos editores.
Sobre o autor Vergílio Guerra
Pedrosa, pouco consegui saber embora tenha uma rua com o seu nome em Leiria de
onde era natural. Pelo que consta no livro foi professor, licenciado em Letras
e em Direito e escreveu vários livros sobre escolas e ensino.
Mas escreveu
também «O Rio Liz e o porto de pesca da Praia de Vieira» e «Praias de Portugal-
Peniche». Este livro resulta da compilação de crónicas feitas durante as férias
e inicialmente publicadas no jornal «O Mensageiro», de Leiria.
As fotografias incluídas no
livro são também da sua autoria e foram elas que mais me impressionaram.
Retratam a vida de uma comunidade piscatória na Praia de Vieira, com as suas
habitações próprias e as actividades ligadas ao mar. Estão documentadas as
figuras típicas que faziam parte da população local, com as suas alcunhas.
Pode ver-se a partida dos
homens para o mar, mas também a sua actividade em terra. Revela-se o importante
papel das mulheres e das crianças que aguardam a chegada dos barcos e ajudam na
descarga do peixe, ou que exercem outras actividades com a venda das camarinhas
apanhadas no pinhal de Leiria, até há pouco tempo, imagem que foi a primeira
que captou a minha atenção.
Mas não resisti a mostrar
outras imagens de um mundo desaparecido que, felizmente, alguém fixou para nós. Espero
que gostem.