quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Convite: Conferência no GEO


Dia 4 de Dezembro às 18,30h irei falar sobre o tema «Da solidão da mesa real à convivialidade da mesa burguesa».
Com a proximidade do Natal, o tema da mesa e da convivialidade põe-se com maior acuidade e pareceu-me um bom ponto de partida para analisar a evolução do seu papel.
No fundo trata-se de um raciocínio sobre as várias condutas e mensagens que o anfitrião pretende transmitir aos seus convidados.
A imagem do poder vai se transformar ao longo dos séculos, mas mantém-se o respeito pelas hierarquias, como se pode constatar no posicionamento dos convivas.
A sala de jantar que surgiu no século XVIII, mas que no século XIX se divulgou pela sociedade em geral, veio facilitar a realização de refeições em conjunto.
A partir de então, e durante todo o século XX, a mesa foi também um local de ensino dos mais novos e um factor aglutinador do agregado familiar.
Norman Rockwell 1943
Embora muitos destes aspectos se tenham perdido, a mesa de Natal retoma todos esses elementos de ligação, em que estão também presentes os de representatividade, através da encenação da sala e da decoração com a melhor baixela da casa e o respeito pela hierarquia.
Digo eu, que gosto de falar de situações idílicas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Betty Crocker, a escritora que nunca existiu

Imagem da autora na contracapa do livro Picture Cook Book
Ao pesquisar sobre a autora de um livro «Picture Cook Book» descobri que Betty Crocker nunca existiu na realidade.
A sua criação esteve a cargo de um publicista chamado Samuel Gale que, em 1921, publicou no jornal Saturday Evening Post um anúncio a um tipo de farinha da empresa Washburn-Crosby, criada no final do século XIX e mais tarde designada General Mills. Tratava-se de um puzzle que as pessoas completavam e enviavam para a empresa, a troco de um prémio que era uma almofada de alfinetes com a forma de um saco de farinha (Gold Medal Flour).
O sucesso foi extraordinário e a empresa recebeu mais de 30.000 respostas. Com elas vinham muitas perguntas sobre bolos e outros cozinhados. À época era evidente que as respostas tinham que ser dadas por uma mulher e o departamento de marketing, masculino, inventou a figura de Betty Crocker. 
Durante anos esta figura foi uma presença constante na imprensa e na rádio, tornando-se numa mãe orientadora em conselhos culinários em questões variadas postas pelas donas de casa.
Respondendo às suas perguntas Betty Croker deu confiança às suas leitoras que recebiam cartas assinadas e que em 1924 ganhou mesmo voz num programa de rádio onde eram dadas lições de culinária. A primeira pessoa a interpretar essa voz foi uma professora de Economia Doméstica chamada Marjorie Child Husted.
Em 1951, a empresa decidiu dar um rosto a essa voz e contratou uma artista chamada Adelaide Hawley para fazer de Betty na televisão.
Mas a cara de Betty já surgia impressa a partir de 1920 em vários anúncios. Até 1936 foi usada uma imagem que era um misto de pintura e de fotografia. Em 1955 a cara de Betty foi modificada e o mesmo aconteceu posteriormente por várias vezes. Em 1965 chegou a parecer-se com Jaqueline Kennedy, mas democratizou-se posteriormente.

O nome de Betty Crocker tornou-se tão familiar que, em 1945, a revista Fortune colocava-a em segundo lugar nas mulheres americanas mais populares, sendo a primeira Eleonor Rossevelt.
Em 1950 foi publicado o seu best seller «Picture Cook Book», de que aqui se apresenta a primeira edição. Ainda hoje se podem adquirir dezenas de livros publicados com o nome desta autora, que serviu igualmente para vender sopas e misturas em pó para bolos.
Em Portugal aconteceu o mesmo quando Maria de Lurdes Modesto, a trabalhar para a Fima-Lever, começou a assinar textos de culinária com o pseudónimo de Francine Dupré, numa campanha publicitária feita pela Lintas para a Margarina Vaqueiro e não é caso único.

Por aqui se conclui que a figura do escritor fantasma, que eu só descobri há alguns anos através de um filme, pode ter mais sucesso que um verdadeiro escritor. Que o digam as muitas figuras públicas que agora publicam livros com o seu nome, sem nunca terem escrito uma linha.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Uma escova terapêutica

O fascínio pela electricidade e em especial pelos campos electromagnéticos, que teve grande desenvolvimento com as teorias de James Clerk Maxwell em 1861, levou ao aparecimento de novos objectos domésticos.
Imagem tirada da internet
Utilizando esta ideia o Dr. George A. Scott, um inglês empreender, inventou vários objectos por ele descritos como curativos como pentes, escovas, espartilhos, etc.
Apoiado numa campanha publicitária, publicada em várias revistas e jornais, expandiu-se para os Estados Unidos onde registou as suas patentes.
Foi uma sorte o aparecimento desta escova que atraiu a minha curiosidade por ter características de século XIX mas ter escrito «Electric» e mais abaixo, em círculo, a afirmação: "The Germ of all Life is Electricity".
Feita num material plástico duro, que não sei identificar, mas que era ele também uma inovação na época, tem incorporadas as cerdas para pentear o cabelo. A acompanhar a escova vinha uma bússola cujos ponteiros se desviavam na presença da escova. Não sendo metálica mas em plástico isso provava que a mesma continha “electricidade”.
Era essa característica que lhe conferia efeitos terapêuticos. Na realidade na sua pega existiam fios de ferro ligeiramente magnetizados que produziam esse efeito. Segundo o seu inventor o uso desta escova levava a um cabelo mais sedoso, fazia crescer o cabelo e tirava as dores de cabeça. Mas adicionavam-se outras vantagens terapêuticas dizendo que curava doenças do sangue (esta é do meu especial agrado), obstipação, reumatismo, etc.
Com o seu sentido prático advertia que a escova não podia ser partilhada pelos outros elementos da família, correndo o risco de se tornar ineficaz.
Na década de 1890 o entusiasmo com estes utensílios, começou a desaparecer mas surgiram outros objectos igualmente inúteis a explorar a boa-fé e ignorância das pessoas. Muitos ainda se devem lembrar das pulseiras magnéticas, extensíveis, dos anos 70 que inundaram Portugal. Substituídas por outras diferentes, metálicas e com duas bolas nos anos 80, surgiram novamente em 2010 dessa vez com a desculpa de que resultavam de estudos da NASA.
Nada de novo à superfície da Terra. Só a descoberta desta escova.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Evolução dos hábitos de mesa nos séc. XVIII e XIX


Um pouco em cima da hora venho convidá-los para assistirem ao Colóquio «Um lugar à mesa Real» que terá lugar no Palácio de Queluz, no dia 8 de Novembro a partir das 9 horas da manhã.

O programa é muito interessante, como podem consultar em

Eu irei falar sobre a «A evolução dos Hábitos de mesa nos séculos XVIII e XIX».
Espero que ainda consigam lugar.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Uso diversificado de fontes

Amanhã, dia 6 de Novembro às 18 horas, irei falar sobre o tema referido na Faculdade de Ciencias Sociais e Humanas, na Avenida de Berna, às 18 horas.
A conferência faz parte de um conjunto de iniciativas sobre História Moderna, de que se anexa programa e é aberta ao público.

sábado, 3 de novembro de 2018

Objecto Mistério Nº 58. Resposta: Lavatório


 Usamos ainda hoje uma forma simplificada deste lavatório, que designamos por lavabo. Trata-se de um pequena taça com pires destinada a lavar os dedos após o consumo de alimentos comidos à mão, como o marisco. Este tipo de utensílio foi o herdeiro natural do que apresentámos como objecto mistério.
A designação de lavabo explica-se por ser a mesma que se utiliza para os depósitos de água com torneira para alguém se lavar. A mesma palavra refere-se, na religião católica, à cerimónia da lavagem dos dedos e à oração que a acompanha na missa.
Imagem tirada da net
 Quanto ao lavatório, no início do século XIX, surgia nos inventários de bens, como no de D. Fernando II[1], como finger glass ou rince bouche. Estas expressões estrangeiras explicam bem a forma como era utilizado. Ele vinha à mesa com água tépida dentro do copo da qual se despejava uma parte na taça. Entregues no final da refeição lavavam-se os dedos na taça, bochechava-se com a água do copo que se deitava na taça já utilizada e o todo era recolhido. Era por esta razão que os lavatórios eram em vidro opaco, branco, ou azul em vários tons. Nalguns casos, como nalguns existentes ainda nas reservas do Palácio da Vila em Sintra, eram em vidro espesso espiculado, que igualmente lhes retirava transparência.  
 Estiveram em grande moda na corte de D. Maria II. O Marquês de Fronteira, D. José de Trazimundo, nas suas memórias descreveu uma cena passada com o representante de França em Portugal, em 1848, Mr. Mallefille[2]. Desconhecendo as regras de etiqueta da época bebeu a água tépida. Tivesse ele lido o livro Manual de Civilidade e Etiqueta e evitar-se-ia esta cena.



[1] Inventário das Louças antigas e modernas que sairam da real Mantearia... 1857. ANTT. AHMF.CR. Cx 4471.
[2] Pereira, Ana Marques, Mesa Real, p, 172.