sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O meu gosto pela romã

 

A romã é uma infrutescência da família das Punicáceas, e a sua cultura é conhecida desde a Antiguidade. É originária do Médio Oriente, em especial das terras da Ásia Menor, Transcaucásia, Irão (antiga Pérsia) e Turquemenistão.

Hoje em dia o Irão e a Índia, são os maiores produtores. Não sei quando chegou a Portugal, mas a sua produção continua ainda, nos nossos dias, pequena e dispersa. Talvez porque os apreciadores dos seus belos bagos são poucos, ou porque os portugueses sejam preguiçosos para descascar as romãs, ou não saibam como fazê-lo.


A romanzeira no Tacuinim Sanitatis (séc. XIV)

Já usei várias técnicas para descascar as romãs. Com a Nigella Lawson aprendi a cortá-las ao meio, horizontalmente e a segurar cada metade, batendo com uma colher de pau. Resulta, sem sujar as mãos, mas o melhor é seguir os passos dos povos que mais as consomem e que cortam as duas “tampas”, pondo a descoberto os sítios de separação dos vários gomos. Depois é só cortar por essa linha e separar os bagos, tirando as peles que os envolvem.

Este ano ofereceram-me uns frutos maravilhosos. E este poste foi despertado pela sua beleza, que me levou a querer fotografá-los. Mas também, não esqueçamos, o seu agradável gosto. Aprecio-o em especial em salada, colocando os bagos numa taça, temperados com açúcar, canela e vinho do Porto. Gosto de juntar algumas gotas de limão, mas este ano tinha limão caviar e não resisti a juntar algumas “pérolas” desse citrino tão diferente, que não permite dele obter sumo.

 Também no que respeita à simbologia este fruto é rico. Os seus múltiplos bagos levaram a que lhes fosse atribuído o significado de fertilidade e abundância. É com esse sentido que surge nos bordados de Castelo Branco.

Está presente na arte sob várias formas. Boticcelli pintou-a no quadro “La Madonna della Malagrana” simbolizando a perfeição divina, o amor cristão e a virgindade de Maria, mãe de Jesus.

E já no século XX a pintura Maluda deixou-se encantar pela imagem poderosa deste fruto, e de que eu já falei anteriormente. Gosto sempre de voltar a estes lugares felizes.

domingo, 1 de dezembro de 2024

O encontro de dois mundos

  

Quando se investigam as origens chega-se, por vezes, a bons resultados. Refiro-me aqui a peças, e não a pessoas. Isto é, não se trata da árvore genealógica, mas os métodos. Neste caso refiro-me a duas canecas de cerâmica feitas na Fábrica Raul da Bernarda. São peças estampadas do final dos anos 60, com desenhos ingénuos, muito semelhantes a imagens usadas em canecas regionais oferecidas como recordação.

Ao organizar um arquivo de decalques de uma firma da Marinha Grande, que já não existe, e de que falarei mais tarde, encontrei precisamente os respeitantes a estas canecas. A verdade é que primeiro surgiram os decalques e só depois foi feita a “descoberta” da peça, perdida no meio de muitas outras.

Os decalques para cerâmica e vidro foram e continuam a ser profusamente usados. De forma mais simples e rápida do que a pintura manual, reproduzem as imagens que se querem divulgar.

O acesso a um arquivo deste tipo permite estudar tipologias e os gostos de uma determinada época. Dada a vastidão do mesmo, voltaremos seguramente ao tema. Antes, há que estabelecer alguns “acasalamentos”.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Museu virtual: Conjunto de cozinha de brincar

 

Nome do Objecto: Conjunto de cozinha de brincar

Descrição:  Caixa de papelão contendo um conjunto destinado ao fabrico de bolos, para menina. É constituído por uma taça maior e 4 mais pequenas em cerâmica vidrada; uma peneira em madeira; uma faca; uma colher de pau; um frasco com tampa para açucar e uma caçarola em cobre para doces.

 Material: Cerâmica, cobre, metal e madeira.

 Época: Década de 1930 - 1940.

 

Marcas: Sacavém nas peças cerâmicas, com o carimbo “Gilman & Cia”, em verde, usado a partir de 1905 e em baixo “Portugal”.

 Origem: adquirido no mercado português.

 Grupo a que pertence: equipamento culinário.

 Função Geral: Fazer doces.

 Função Específica: Brincar com utensílios de cozinha destinados à confecção de doçaria.

 Nº inventário: 5354.

 Objectos semelhantes: Vários não classificados.

 

Observações: A caixa em papelão, que nunca foi desmontada, destinava-se a ser utilizada pela criança que reproduzia nas suas brincadeiras as confecções culinárias que tinham lugar na cozinha. O conjunto é específico para doces, sendo de prever que da colecção faziam parte outros conjuntos destinados a salgados. Os objectos em si reproduzem outros semelhantes, em especial as identificadas peças da Fábrica de Louça de Sacavém. A faca apresenta-se igualmente marcada.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

A exposição “Santo António na Publicidade”

  

O anúncio desta exposição, que está patente no Museu de Lisboa Santo António, deixou-me logo curiosa.

Abriu há pouco tempo e é uma pequena mostra do muito que deve haver e que nos escapa. Para além do espólio do Museu contou com a colaboração de outros museus, como o Museu Bordalo Pinheiro, e com os empréstimos de vários coleccionadores particulares.

 

Para quem gosta de publicidade, associar este tema a um santo que aos lisboetas (eu sou lisboeta quando me convém) diz tanto, é um autêntico rebuçado.

Da vasta selecção, que acaba por se interpenetrar com figuras antonianas do Museu escolhi, como seria previsível para este blogue, imagens de produtos relacionados com a alimentação.

Ao longo dos tempos este santo, padroeiro da cidade de Lisboa, e protector dos amores, pelo que é também considerado padroeiro dos casamentos, foi usado como figura central de múltiplos empreendimentos comerciais. Partia-se do princípio que a sua figura simpática vendia. E deviam estar certos.

Foi assim que surgiu associado a empresas que tomavam o seu nome, como a Quinta de Santo António, a Pastelaria de Santo António, etc., ou como marcas em que está presente a sua imagem. Deste modo a sua imagem está presente em inúmeros cartazes, rótulos de vinhos, marcas de café, de bolachas,(*) etc.

Para recordar as minhas férias de meninice na Costa da Caparica, não podia faltar a Pastelaria de Santo António, com os seus bolos deliciosos que comíamos à tarde na esplanada. 

E eu disse que só falava no ramo alimentar. Aconselho a irem ver!

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(*) Ver o meu poste Fabrica de Santo António. 1 - História  https://garfadasonline.blogspot.com/2010/02/fabrica-santo-antonio-1-historia.html e Fábrica de Santo António. 2 -Os produtos https://garfadasonline.blogspot.com/2010/02/fabrica-santo-antonio-2-os-produtos.html

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Um trio bordaliano

 


Durante a apresentação do livro “Rafael de faca e Garfo”, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro, a minha amiga Rosário Félix, aproveitou para desenhar o que via.

Nós ouvimos e vemos, mas não fixamos as imagens. A Rosário, que faz parte dos Urban Sketchers, e que, a meu pedido, ilustrou a capa e o interior do livro“ Do Comer e do Falar…” um dicionário gastronómico, está sempre  a desenhar o que lhe passa em frente dos olhos.

E aqui estamos os três, a Isabel Fernandes, que apresentou o livro, o João Alpuim, director do Museu e eu, de acordo com a sua visão.

Uma maneira de recordar o dia, diferente das fotografias.

sábado, 19 de outubro de 2024

Um Menu da Casa Real num calendário

 

Os menus em Portugal, surgiram na Casa Real na segunda metade do século XIX, com maior regularidade na década de 80. O seu uso foi precedido por ementas de casas comerciais, que mais precocemente adoptaram o serviço à russa.

 

Em Novembro de 1867, Urbain Dubois, importante cozinheiro francês, autor de vários livros, escreveu para a corte de Lisboa a pedir um “um menu autêntico da corte de Portugal, bem como as armas da Casa Real”, para introduzir na 3ª edição do seu livro Cuisine de Tous les Pays. Este devia ser publicado conjuntamente com outros de várias casas reais da Europa.[1]

Presumimos que nunca obteve resposta, pois a receita que viria a ser publicada no livro, no capítulo Menus Authentiques, foi fornecida pela Embaixada de França em Portugal.  Trata-se de um menu de 18 couverts, servido por M. Bla, com receitas francesas ao gosto da época.[2]


Foi por isso com surpresa que encontrei um calendário da Soc. Agrícola da Quinta da Aveleda, com ementas de várias casas reais europeias, destinado ao ano de 1950. Começava com uma ementa da Corte de Windor, de 1858. Seguia-se uma outra da corte de S. Petersburgo, de 1866, da corte francesa e da Turquia.

 Os meses de Setembro e Outubro eram então “decorados” com a ementa da de um jantar de 20 convivas, servido na corte de Lisboa em 1860.

Não existe qualquer informação sobre a proveniência destes documentos, mas, no final de cada representação da ementa, era acrescentada uma frase em que se dizia com graça, que não fora servido o Casal Garcia ou a Aveleda porque não havia.

Quanto à ementa da corte portuguesa rematava, com a frase: “ E no final a velha bagaceira Aveleda, se não fora ainda jovem então”.

Em cada uma das folhas do calendário um casal de aves pintadas, contornadas por um rebordo florido, tendo na retaguarda da folha escrito: “Para encaixilhar”.

 Estava tudo previsto. Não sei porque é que vim levantar questões.

P.S. O desenho destas aves viria também a ser utilizado em capas de ementas, destinadas aos restaurantes e oferta da mesma Quinta da Aveleda.

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[1] Pereira, Ana Marques Mesa Real. 2000: 189.

[2] Dubois, Urbain, La cuisine de tous les Pays, 7ª ed., Paris, 1897, Quadro XLVII.



 

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Um lembrete e uma coincidência

 

O lembrete é evidentemente para recordar o lançamento do livro Rafael de Faca e Garfo, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro, no dia 12 de Outubro, sábado às 15,30 m. Aproveite, visita o Museu e assiste ao lançamento. Dois em um.

Pag. 95 do livro

A coincidência está bem visível nas imagens apresentadas.

Pág. 96 do livro
Nas páginas 95 e 96 é reproduzido parte do serviço “Varina e Torre de Belém”, pertença do Museu Bordalo Pinheiro, e que foi feito em várias cores.

Pois bem, esta semana entrou cá em casa um prato em preto, precisamente deste modelo. Há pessoas com sorte! Eu sou uma delas.

Marca incisa e pintada