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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Receitas com urtigas

Já falámos sobre várias vantagens das urtigas mas neste artigo valorizamos a sua utilização em culinária, isto é, a sua utilização na alimentação. Para além de permitirem fazer pratos deliciosos temos que reconhecer que numa época de crise até constituem uma mais valia.

Para fazer «sopa de urtigas» escolha apenas as folhas, de preferência as mais novas. Depois de lavadas põem-se numa panela com um fio de azeite e deixam-se cozer. Juntar depois batatas cruas cortadas aos bocados e alhos cortados às fatias. Deixar cozer bem. Quando estiver cozido desfaz-se tudo com a varinha mágica. Juntar sal. Antes de servir decorar com um ovo cozido picado ou com pão frito aos quadradinhos.

Outra forma de comer as urtigas é em “frittata”. Primeiro tenho que explicar o que é uma “frittata”. Trata-se de um prato muito antigo, já citado por Mestre Martino, no século XVI, na sua obra Libro de arte coquinaria. É uma espécie de omeleta italiana a que se juntam ervas, queijo ou carnes. Tal como a omeleta é feita com ovos batidos, mas ao contrário desta não é apresentada enrolada, mas aberta como se fosse uma tortilha. Isto deve-se a que apenas é cozinhada lentamente na fase inicial na frigideira, mas depois vai ao forno e acaba de cozer sob o calor do grelhador.

Quando eu era pequena existia em minha casa um dicionário de francês-italiano, intitulado «L’Italien Sain Peine» que tinha desenhos humorísticos. De todos, aquele a eu e o meu irmão achávamos mais graça, era ao desenho de uma rapariga que caía com um cesto de ovos. Um observador da cena comentava “ Oh bella! Una frittata”. Era o tipo de desenho a que as crianças não resistiam. O que resistiu foi o livro para eu lhes mostrar a gravura. Eu não podia imaginar na altura que algum dia iria escrever sobre o assunto.
Mas passemos à receita da Frittata de Urtigas. Numa frigideira alouram-se ligeiramente em azeite, alhos picados. Juntam-se as urtigas. Se necessário junta-se um pouco de água. Quando estão cozidas tiram-se da frigideira e picam-se finamente numa tábua. Põem-se numa taça os ovos batidos com sal, pimenta e um pouco de nós-moscada. Juntam-se as urtigas picadas e depois de bem incorporadas, juntam-se natas espessas e bate-se novamente. Numa frigideira deita-se mais azeite e espalha-se a mistura dos ovos. Com uma espátula de madeira soltam-se os ovos. Quando estão cozidos por baixo leva-se a frigideira ao forno durante 10-12 minutos. Os ovos alouram sem queimar. Quando pronta pode servir-se num prato às fatias. Apenas uma nota: ao contrário da omeleta, que para ficar boa não deve levar mais de 3 ovos, esta receita deve ser feita com pelo menos 6 ovos.

Outra receita mais simples é a das Urtigas Salteadas. Procede-se com anteriormente alourando o alho e juntando-as as folhas. Tempera-se com sal e pimenta. Quando fritas retiram-se e servem-se com rodelas de limão. As urtigas não têm água como os espinafres, portanto se não gostar delas estaladiças tem que juntar um pouco de água. Outra opção é juntar um pouco de natas ou um pouco de farinha e leite e fazer uma espécie de esparregado. Nesse caso pode substituir o limão por vinagre.

São apenas três exemplos, mas de um modo geral pode dizer-se que todas as receitas que existem para os espinafres podem ser utilizadas para as urtigas. Quem vive no campo tem a possibilidade de ter acesso a plantas selvagens, que não existem no supermercado. As urtigas, tal com as beldroegas são disso exemplo. Utilizem-nas mesmo fora da época, uma vez que, depois de escaldadas, podem ser congeladas. Vão ver que não se arrependem.

Urtigas, as mal amadas

As urtigas, que crescem por todo o lado, são plantas mal amadas que impelem as pessoas para a sua destruição.

As suas folhas e talos têm uma substância, o ácido fórmico, que é responsável pela sensação de ardor quando tocam a pele. Fazem parte de uma grande família que compreende pelo menos 2200 membros, mas são mais frequentes as variedades Urtica dioica (grande urtiga) e a Urtica urens (urtiga dos jardins ou urtiga picante).

Acontece com as urtigas o mesmo que nos acontece com algumas pessoas. Não gostamos delas porque não as conhecemos. Quando travamos conhecimento ficamos surpreendidos com o seu lado positivo e revelam-nos o modo como estávamos errados.

As vantagens das urtigas ultrapassam em muito os seus inconvenientes. O que se torna necessário é usar umas boas luvas para a sua colheita. Devem escolher-se plantas jovens e colher apenas as folhas terminais. Os talos são fibrosos e devem evitar-se. Depois de cozidas os picos desaparecem, pelo que não há que ter receio.

Tudo isto vem a propósito da sua utilização na alimentação. Mas elas têm outras virtudes que não serão aqui faladas. Refiro-me às suas propriedades medicamentosas, que não sei se são justificadas. É referido que são ricas em vitamina C e A. Têm acetilcolina o que as leva a ser recomendadas em doentes com Alzheimer e às suas raízes são atribuídos benefícios na hipertrofia benigna da próstata.

Um velho ditado de origem irlandesa afirma que quem comer sopa de urtigas três vezes em Maio passa o ano sem dores reumatismais, prática que era seguida desde longa data pelos monges irlandeses. As urtigas são também utilizadas na agricultura biológica. Para além de ajudarem as outras plantas vizinhas a crescerem mais resistentes aos fungos, podem ser usadas como um composto para o cultivo dos campos. Servem também para fazer uma calda (mal cheirosa) contra os pulgões, que é uma forma ecológica de desinfestação.

Estas são apenas algumas vantagens, mas a principal é a sua utilização na culinária, sobre a qual falaremos no próximo artigo.