sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Um remédio para a pandemia ... em 1918

Uma sugestão, bem humorada, para tratamento da pandemia da gripe espanhola, em 1918, que foi publicada no jornal O Eco Teatral e Cinematográfico.

Pergunto-me se esta Abadia teria a ver com o restaurante Abadia existente então no Palácio Foz, em Lisboa.

É que a famosa empresa Abadia de Alcobaça que teve uma acção importante na transformação frutícola, na produção de doces e licores, só foi criada em 1943. A escritura da sociedade data de 5 de Junho de 1943, ficando inscritos como sócios gerentes Joaquim Belo Marques da Silveira, José António Barreto Alves Faria, Galileu da Silva, Gaudêncio Luís da Silva Costa e Carlos Pereira Campeão. Que eu saiba não produziu cognac, pelo que associando a data, me parece mais provável a primeira hipótese. 

O restaurante Abadia foi fundado em 1917 e situava-se na cave do antigo Palácio Castelo Melhor, posteriormente vendido ao Marquês da Foz e mais conhecido pelo nome deste último. Um local misterioso pelas suas características estéticas novecentistas que se devem ao arquitecto  Rosendo Carvalheira.

Surpresas!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A encenação da mesa. Uma longa caminhada.

 

Dia 19 de Janeiro às 18 horas vou falar no Teatro Romano, em Lisboa. Palestra com número limitado a 30 pessoas e necessidade de inscrição prévia (Participação gratuita, mediante reserva através do email reservas@museudelisboa.pt ou 215 818 530).


sábado, 8 de janeiro de 2022

Destralhar. Que palavra irritante!

Há alguns anos ouvi a história de um militar da velha guarda que costumava dizer: «Quando me falam em cultura apetece-me puxar do revólver».

Recordar esta afirmação provoca sempre em mim um sorriso e, apesar do absurdo, até sou capaz de a compreender. Comigo passa-se o mesmo quando ouço a palavra “destralhar”. É uma palavra nova que as pessoas usam convencidas que estão a ser modernas e apreciadoras do minimalismo.

No outro dia na televisão uma senhora que até tinha escrito um livro sobre o tema, defendia-o porque alterava o feng shui, outra irritação sem base científica.

Há uns meses, após me queixar da dificuldade em organizar os múltiplos objectos, livros, ephemera, etc, que entram nesta casa, uma amiga disse-me para eu destralhar. Fiquei de cabeça perdida e disse-lhe que não podia fazer isso porque… não tinha tralhas.

Na realidade o conceito de tralha aplica-se a objectos sem valor. Ninguém destralha as salvas de prata da avó. Se não as quer, vende-as.

Mas a falta de valor de um objecto é muito subjectivo. Eu gosto de objectos sem valor que contam histórias ou que representam um passo nos hábitos da humanidade. Em muitos casos isso é coincidente com o conceito de ephemera, mas nem sempre.

Um objecto de ephemera pode ser bastante valioso, por exemplo um bocado de papel do século XVIII de um comerciante que apresentava os seus serviços, um precursor do cartão-de-visita e que são tão raros. E um objecto tipo tralha, por exemplo uma caixinha de plástico, pode ainda ser vendida na Feira da Ladra por alguns cêntimos ou euros. Tudo tem o valor que lhe atribuímos.

Isto vem a propósito da minha actividade de hoje: organizar sacos de papel de casas de moda, dos anos 60, de lojas já hoje desaparecidas.

Para muitos deviam ir para o lixo. Mas observem alguns exemplos e vejam se não lhes provocam um sorriso quando identificam locais que já nem se lembravam que existiram.

Enfim, cada um tem a tralha que merece!

 

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Maçãs em vinho (porque não?)

Foi por acaso que as fiz pela primeira vez. Um vinho tinto de qualidade, mas demasiado doce, fez-me decidir o seu destino: era bom para cozinhar pêras em vinho. Descobri então que tinha poucas pêras e decidi acrescentar maçãs, neste caso maçãs de Alcobaça, pequenas. Fiquei depois a pensar por que razão não utilizamos as maçãs para o mesmo fim e como esta dúvida nunca me tinha ocorrido.

Se consultarmos a internet até encontramos mais receitas de maçãs cozinhadas com vinho do que com pêras. Na grande maioria tratam-se no entanto de receitas em que são assadas no forno e não cozidas. Muitas dessas receitas são brasileiras, fazendo-me pensar que talvez o acesso às maçãs seja mais fácil nesse país.

Na realidade a receita original é italiana. É verdade que a origem é disputada tanto por Itália como por França, até porque a receita teve origem no Piemonte, região de Itália que confina com a França. Por outro lado a pêra adequada para esse fim é a Martin Sec que é considerada a melhor das pêras para cozimento.

Acontece que esta variedade é muito antiga, com eventual origem francesa, remontando ao século 16. Notícias sobre a mesma surgiram nos textos do agrónomo francês Charles Estienne, em 1536.[1] A origem geográfica é discutida e embora o próprio Estienne a coloque na região de Champagne, outros locais situados nos vales alpinos entre a Itália e a França disputam o seu direito de primogenitura.

Ainda no século XIX no importante livro sobre pomologia "La Pomona italiana"[2] de Giorgio Gallesio esta variedade era descrita como sendo de origem piemontesa, novamente contestado por outros especialistas franceses.

Dito isto, a verdade é que a receita das chamadas “pêras em vinho” foi sempre reconhecida como italiana. Lembro-me de as ter comido pela primeira vez, talvez na década de 1990, em restaurantes italianos de Lisboa, únicos locais onde eram então confeccionadas.

Pera Martin Sec em La Pomma italiana

Depois a receita generalizou-se e nós os portugueses, que não somos para modas, até passámos a chamá-las “Peras bêbadas”. Estavam definitivamente aportuguesadas.

Agora eu pergunto: sou só seu que não utilizo maçãs para fazer a mesma receita, ou somos todos?.

É que da mistura concluí que as maçãs ficaram melhores do que as pêras. E porquê? Porque sendo mais pequenas absorveram até mais interiormente o molho em que foram cozidas. Não se esqueçam de usar maçãs mais verdes, isto é, pouco maduras, e de as cozer menos tempo. Depois digam-me a vosssa opinião.



[1] De re hortensi libellus (Lyon, 1536) et Seminarium, et plantarum fructiferarum praesertim arborum quae post hortos conseri solent (Paris, 1536).

[2] Pomona Italiana: Trattato degli alberi fruttiferi conteneate la Descrizione delle megliori varietáa dei Frutte coltivati in Italia, accompagnato da Figure disegnate, e colorite sul vero. Pisa: 1842.