segunda-feira, 29 de abril de 2019

De volta ao Kumquat

 Há cerca de um ano provei este citrino pela primeira vez e causou-me tão agradável sensação que falei nele neste blogue (ver o citrino kumquat). Tive agora a oportunidade de o tornar a comer, uma vez que estamos na sua época e posso confirmar que é extremamente agradável.
Já se vendem as plantas meio crescidas que aconselho a comprarem porque é um arbusto de crescimento lento.
As pessoas com quem partilhei os exemplares que consegui não o conheciam e não sabem como se come.
Por isso volto hoje a este fruto para dizer:
·         Come-se inteiro com casca, depois de lavado
·         Pode cristalizar-se.
·         Pode acompanhar pratos de carne.
·         Pode fazer-se compota.
·         Serve para fazer chutneys
 Enfim, pode utilizar-se como qualquer citrino. Mas nada bate o seu sabor comido ao natural. Aproveitem, se o conseguirem encontrar.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Dois irmãos-de-leite


Esta fotografia enternecedora, e ao mesmo tempo surpreendente, foi transformada em postal ilustrado e representa dois irmãos-de-leite em Angola, em 1932, no Vicariato de Huambo. O espantoso é que um é uma criança de raça negra e o outro uma cabrinha de tenra idade. Ambos sem mãe que lhes desse leite foram alimentados com o leite existente na garrafa que se encontra entre eles.
A legenda, na face posterior do postal é clara: «Dois irmãos de leite. Vicariato do Huambo, 1932». Esta designação de irmãos-de-leite, isto é, irmãos não consanguíneos a que eram atribuídos laços de familiaridade pelo facto de serem amamentados pela mesma mulher, também era conhecida por «irmãos colaços». D. Francisco Manuel de Mello, na Feira de Anexins, usa-a com esse sentido (p. 30).
Mãe preta. Fotografia tirada da internet
No Brasil essa função competia muitas vezes às escravas negras e mais tarde às criadas que haviam tido filhos. Gilberto Freyre, em Casa-Grande & Senzala, refere-se a esse facto que considerava explicar «muito do pendor sexual que se nota pelas mulheres de cor, por parte do filho-família, nos países escravocratas». Mas este hábito foi usado em muitos países e cortes europeias, facilitando assim maternidades mais precoces (a amamentação impede a fertilização) e uma maior liberdade da mulher de sociedade.
Em oposição situava-se a «ama-seca» expressão aplicada à mulher que trata das crianças, sem as amamentar.
Ama-de-leite. Fotografia tirada da internet
Para enquadrar esta imagem quero acrescentar que a informação sobre este Vicariato e a Acção Missionária Angolana na região do Huambo é escassa antes de 1940. Há referência a um Seminário de Caála no Huambo, fundado em 1921 sob a responsabilidade do Padre Joaquim Alves Correia. Em África as várias estruturas missionárias religiosas foram afectadas pela implantação da República em 1910 e estes missionários deixaram de ser considerados funcionários públicos. Em 1921 um Decreto do Ministro das Colónias, Rodrigues Gaspar, enquadrou os missionários na sua função, sendo utilizados pelo Estado para fins civilizadores, mas dependentes da Igreja católica e da sua disciplina. No entanto apenas em 1926 seriam publicados o Estatuto Orgânico das Missões Católicas Portuguesas em África.
Irmãos-de-leite. 1883. Foto tirada da internet.
No Huambo os missionários, em especial os padres da Congregação do Espírito Santo, exerceram a sua acção sobretudo sobre os Ovimbundu, com uma expansão agrícola regional na década de 1920, que viria a decair na década de 1940 com as fazendas mais produtivas a tornaram-se propriedade dos colonos brancos.
Na década de 1930 o Huambo ainda era o paraíso, com irmãos-de-leite diferentes a partilharem o leite de um outro animal desconhecido.
-------
Bibliografia:
LECOMTE Padre Ernesto, (1937 - 6.ª edição), Cartilha da doutrina cristã em portuguez e mbundu. Huambo, Tipografia da Missão.
DULLEY, Iracema, «Cristianismo e distinção: uma análise comparativa da recepção da presença missionária entre os «Ovimbundu» e os «Ovakwanyama» de Angola », Mulemba [Online], 5 (9) | 2015, consultado a 16 abril 2019 em http://journals.openedition.org/mulemba/404 ; DOI : 10.4000/mulemba.404
MELLO, Francisco Manuel de, (1875). Feira dos anexins obra posthuma de D. Francisco Manuel de Mello / ed. dirigida e revista por Innocencio Francisco da Silva. Livraria de A.M. Pereira: Lisboa.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Madre-de-louro


Foi uma autêntica descoberta para mim esta planta oferecida pela minha amiga Isabel Fernandes, para ser utilizada como infusão. Foi comprada na Ilha da Madeira no mercado de Santo António da Serra e foi-me descrita como sendo uma excrescência do loureiro, que crescia no lado virado a Norte. 
Foto tirada do site do Instituto da Florestas e Conservação da Natureza
É desconhecida no continente porque se desenvolve apenas na Madeira (na Laurissilva), na Galiza e nas Ilhas Canárias (Gomera, La Palma).
 O seu nome científico é Laurobasidium laurii, e é uma cecídea provocada por um fungo específico que vive como parasita sobre o loureiro Laurus novocanariensis. Não surge abundantemente porque só se desenvolve em árvores com mais de 10 anos. (Cruz Morais, 1987). Apresenta-se na árvore com um aspecto em hastes de veado que começam por ser verdes e vão escurecendo tomando, quando seca, esta cor castanha que aqui se vê.
 
Muito apreciada na Madeira é sobretudo na freguesia da Fajã da Ovelha que é mais utilizada. É usada em infusão sozinha ou com outras ervas, como botões de macela, erva-cidreira-de-caninha, salva-de-nossa-senhora, gervão, funcho, hortelã-pimenta, orégãos, canela-de-pau, erva-doce, noz-moscada, arruda e casca de limão, sendo adoçada com açúcar ou mel.
Tem uma aplicação vasta em resfriados, como hemostática, em doenças reumatismais, em doenças circulatórias e muitas outras indicações.
No período pós-parto, é dado às parturientes um pequeno cálice de “infusão” de madre-de-louro e alfavaca (Parietaria judaica), sempre-noiva (Polygonum aviculare), canela-branca (Peperomia galioides).
 Estes conhecimentos de sabedoria popular têm sido objecto de estudo e em 1987 Cruz Morais escreveu a sua tese de Doutoramento com um estudo etnofarmacológico para melhor perceber as utilidades medicinais da madre-de-louro. Descobriu que as substâncias bioactivas deste fungo eram lactonas sesquiterpénicas, posteriormente estudadas por outros autores.

Para além do uso medicinal a madre-de-louro também é usada para fazer licores e outras bebidas, apreciadas pelo seu sabor agradável, e a que também são atribuídas propriedades calmantes.
Já agora, também tem uso na cozinha servindo para cozinhar carne dura que, doutro modo, não seria apta para consumo.

Bibliografia:
- Freitas, Fátima; Mateus, Mª da Graça. Plantas e seus usos tradicionais na Freguesia de Fajã da Ovelha. Parque Natural da Madeira. Consultdo online a 6-4-2019 em https://issuu.com/parquenaturalmadeira/docs/livro_plantas_versao_final/4
- Morais, JMC. Identificação e acção farmacológica de alguns constituintes do fungo parasita Laurobasidium lauri (Geyler) Julich e a sua detecção na planta hospedeira Laurus azorica (Seub) Franco. Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa, Faculdade de Farmácia 1987. Consultado online a 6-4-2019 em https://digituma.uma.pt/bitstream/10400.13/626/1/MestradoMariaJo%C3%A3oCarvalho.pdf


sábado, 6 de abril de 2019

Bolsa Minhota (ou algibeira?)

A palavra algibeira vem do árabe al-jibairâ, que significa pequeno saco. Nos dicionários a palavra é descrita como sendo uma peça do vestuário destinada a guardar pequenos objectos, como moedas, lenço, terço, etc., e nesse sentido é um bolso.
Mas é também um pequeno saco ou bolsa que se usa atada à cintura. Antigamente era um acessório interior mas passou a ser usado exteriormente o que justificou uma maior beleza. 
Algibeira minhota do início do século XX. Palavra VIANNA em cima e no centro a palavra AMOR bordada com vidrilhos 
Em Portugal foram usadas em todo o país, e até há pouco tempo encontrávamo-las sobretudo penduradas à cintura de vendedoras em feiras e mercados.
Temos que reconhecer contudo que nenhumas atingiram a beleza das algibeiras minhotas. Claro que as mais belas são de festa, versões melhoradas das de trabalho. Personalizadas pelas suas possuidoras compunham o traje e davam-lhe maior beleza.
Hesitei em chamar a esta bolsa «algibeira», mas apesar de não ir à cintura, mas pendurada no braço, tem idêntica função. Deixo para os entendidos estabelecer a diferença, se é que existe.
Neste caso a bolsa em linho tem bordada na frente dois corações trespassados por setas e a palavra AMOR, dividida pelos dois corações, encimados por uma coroa. Na parte detrás, agora menos visível porque cometi o erro de a lavar, uma quadra:
Sino coração d’aldeia
Coração sino da gente
Um a sentir quando bate
Outro a bater quando sente


terça-feira, 2 de abril de 2019

Apresentação do livro «Vestir a Mesa» no Palácio Nacional da Ajuda


Para quem não teve oportunidade de ir ao lançamento na Livraria Ferin, em Lisboa, poderá agora assistir à apresentação do livro «Vestir a mesa/Dressing the Table», que estará a cargo da Profª. Drª. Ana Isabel Buescu. Eu farei uma pequena resenha sobre o modo como nasceu e foi desenvolvida esta obra.
O evento terá lugar no Palácio da Ajuda no dia 9 de Abril às 18,00 e será um grande prazer encontrar amigos e interessados.