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domingo, 27 de janeiro de 2013

O passe-vite ou o passador de legumes

 Quando há alguns anos mudei de casa, pela primeira vez deitei fora imensas coisas que pensei já não me faziam falta. Entre elas estava um passe-vite. Tinha entretanto comprado utensílios eléctricos que achei que substituíam os manuais e se podiam dispensar.
Arrependi-me mais tarde e há alguns meses adquiri um novo passe-vite, porque me apercebi que algumas pratos, como o puré de batata, não podem ser feitos com as máquinas eléctricas.
 Estas memórias vêm a propósito de um leque publicitário sobre «A família Mouli» oferecido pelo representante da marca em Portugal, A. Castanheira, em 1960.
 A história da invenção do passador de legumes ou «passe-vite» é disputada entre um francês Jean Matelet, que registou um «Moulin-legumes» em 1932 e um belga, Victor Simon, que registou a marca «Passe vite» para um passador de acção rápida para legumes e outros comestíveis, na Bélgica, em 1928.
 Na realidade o ganhador foi Mantelet que rapidamente comercializou o seu modelo e iniciou a sua produção. Feito em metal o modelo foi não só aperfeiçoado como dele resultaram muitos outros com fins semelhantes. Assim surgiram os moinhos para ralar, o moinho de salsa, os corta legumes, o moinho de carne e o moinho bebé. Da família Mouli aqui representada neste leque publicitário faziam também parte os moinhos para sal, pimenta e mostardeiro.
Passador usado sobretudo para moer salsa. Os dois modelos estão separados por mais de 20 anos.
Jean Mantelet apoiou-se em campanhas publicitárias bem pensadas dirigidas às mulheres, com a mensagem de que os seus produtos lhes facilitavam a vida, enquanto ia transmitindo aos maridos a ideia de que deviam perceber esse conceito e que a felicidade do casal passava pela oferta desses bens.
Lembro-me perfeitamente de o pai oferecer nos anos 60 e 70 electrodomésticos à minha mãe, pelo Natal e pelos aniversários. Nessa época tornaram-se no presente adequado para a mulher, como se a única função fosse a de dona-de-casa.
Em Portugal a marca «Mouli» foi registada pela empresa Moulinex, S.A. em maio de 1952, enquanto o «Mouli julienne» apenas o foi em Março de 2000. Mas já era comercializado muito antes, penso que também desde a década de 1950-60. Recordo-me de este cortador de legumes ter chegado a casa da minha tia, de abrirmos a caixa e tirar de lá o aparelho com as suas 3 pernas desdobráveis e as várias placas de corte. Não sei se alguma vez foi utilizado porque aquela caixa manteve-se fechada muitos anos.
Mas estes aparelhos foram um sucesso e invadiram todos os lares. Em França apenas entre 1933 e 1935 foram vendidos mais de 2 milhões de exemplares.
A imaginação de Mantelet não parava e entre 1929 e 1953, registou 93 patentes. Em 1956, influenciado pelas «Velosolex» então em moda (lembram-se?), integrou um moinho eléctrico numa das suas invenções nascendo o primeiro moinho eléctrico de café, o «Moulinex», que viria a dar o nome à própria empresa em 1957.
Na década de 1970 a empresa estava no auge com a venda de pequenos eletrodomésticos vendidos a preços acessíveis.
Mas em 1985 os problemas financeiros levaram ao despedimento de pessoal, revelando os problemas da empresa. Em 1996 a crise estava instalada, sobretudo depois da compra da Krups em 1991. Em 2001 deu-se a liquidação da empresa, embora a marca tenha sido posteriormente comprada pela SEB.
Mantelet não viveu o suficiente para assistir a esta parte final. Mas ninguém lhe tira o mérito de ter revolucionado a cozinha e facilitado a vida das donas-de-casa. Para a história ficam ainda o uso de duas palavras: «passe-vite», como sinónimo (e não tradução) de passador de legumes e a palavra «Moulinex», a que se associa imediatamente um pequeno electrodoméstico.