Ao consultar um jornal antigo, um suplemento do Diário de Lisboa de 1963, deparei-me com uma notícia espantosa: a explicação do que era um duplicador.
Hoje em dia não seria necessário um artigo para explicar como se faz uma fotocópia, de tal modo o processo se encontra divulgado.
Lembrei-me então dos anos 60 quando eu estava nos últimos anos do Liceu. Eu era uma boa aluna a História, mas a maioria da turma não conseguia ler os livros compactos de “História do Matoso”. O autor destes livros era António Gonçalves Matoso (1895-1975), pai do historiador José Matoso. Foi professor liceal e autor de manuais de História para o ensino liceal, desde 1938.
O seu Compêndio de História de Portugal, e o Compêndio de História Universal, acompanharam gerações de estudantes.
Extremamente bem-feitos, do ponto de vista histórico, não tinham em conta a população a que se destinavam e eram detestados por todos e … simplesmente não eram lidos. Em conclusão as reprovações eram imensas.
O meu pai havia-me ensinado a importância de resumir os textos e foi o que eu fiz a História. Escrevi uma pequena História, baseada no compêndio de leitura obrigatória do Matoso. Os meus colegas de turma quiseram ter acesso a ele, mas então não havia ainda fotocópias. Acontece que num dos empregos do meu pai existia uma máquina duplicadora. Lembro-me que tinha uma tina com um líquido de onde saía uma folha idêntica ao original, mais grossa e brilhante. Fiz umas cópias destinadas a venda aos meus colegas. Distribui-as pelos interessados que deviam pagar-me uma insignificância, para compensar o preço das folhas. Mas isso nunca aconteceu.
Foi o meu primeiro negócio e logo ali devia ter percebido que não tinha jeito para ganhar dinheiro. Ao longo da vida viria a confirmar isso.
Mas esta história não serve para me queixar, mas para descrever uma memória perdida do tempo em que surgiram as primeiras máquinas duplicadoras. Um objecto que já quase ninguém recorda. Como a modernidade é efémera.
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