Ao organizar os livros
encontrei um conjunto de gravuras fac-simile da obra Le Calendrier des Bergers. Constituído por 12 gravuras inclui as
xilogravuras correspondentes aos doze meses do ano e aos signos do Zodíaco. As imagens
foram tiradas da obra homónima, de 1497, existente na Biblioteca Nacional de
França ou Biblioteca Mazarine.
Desde o século XII começou-se
a difundir o uso de calendários em livros para clérigos, que se apresentavam como
saltérios, missais ou martirológios. No final da Idade Média, os Livros de
Horas ainda começavam com um calendário indicando feriados religiosos.
No entanto os calendários dos
pastores são de natureza diferente. Trata-se de compilações para uso prático e
moral, destinadas a um público leigo. Existia uma visão romantizada dos
pastores, atribuindo-se-lhe um saber contemplativo, e era-lhes reconhecido um
conhecimento da ciência da alma, do corpo, das estrelas, da vida e da morte.
Neles surgiam conceitos de astrologia,
com a presença dos signos do zodíaco, as tábuas anatómicas, as danças macabras
ou por vezes do inferno. As representações das actividades agrícolas ou
artesanais para cada mês do ano, ajudavam a enriquecer o texto e tinham também
fins morais.
O primeiro Calendário dos pastores foi impresso em
Paris por Guy Marchant em 1491, mas foi reeditado várias vezes, em 1497, 1503,
1510, 1529 e 1541.
Apresento aqui o mês de
Janeiro, o meu preferido tal como nos Livros de Horas, por representar cenas de
interior, em que a mesa está sempre presente. A palavra Janeiro vem do latim
"januarius", de Janus. Na mitologia romana, Janus era o deus das
portas e passagens, no espaço e no tempo, como a passagem de um ano para o
outro. No final da Idade Média, Janus deu lugar a um homem idoso, que pode ser
encontrado nas representações dos meses de Inverno, como vemos aqui.
Se nos outros meses se
observam imagens agrícolas no exterior, no mês de Janeiro, devido ao mau tempo
e às geadas, o trabalho de cultivo está praticamente suspenso. Nesta
xilogravura, a cena é centrada no interior da habitação em que tanto o piso,
como os vidrais da janela, e as grandes dimensões da lareira de pedra nos dão
indicações sobre a riqueza da casa. A completar esta impressão está a mesa
coberta com a toalha, com o pão disperso e os objectos como o pichel, o copo, a
faca e o prato com uma ave. Uma criada apresenta ainda um prato coberto com
outro alimento.
Vamos encontrar imagens com
esta tipologia em muitos Livros de Horas, mais ou menos elaboradas, mas os meus
olhos, pelas razões que expliquei, recaem sempre em Janeiro.
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