Na entrevista que há pouco tempo dei à Alexandra Prado Coelho para o Público, falava-lhe na premência de guardar objectos de uso quotidiano, em plástico, antes que acabassem na reciclagem.
A propósito lembrei-me de um
borrifador em plástico com o feitio de um urso. Desde que surgiram os ferros a
vapor os borrifadores deixaram de ser necessários e lentamente foram
desaparecendo. Alguns eram apenas objectos práticos em plástico colorido, com
furos na parte superior. Invertiam-se e apertavam-se permitindo a saída de água
de forma fina para humedecer a roupa, algum tempo antes de ser passada a ferro.
A maioria tinha a forma de uma garrafa, apresentando na frente a palavra “borrifador”,
para não haver dúvidas.
Mas outros tinham formas
variadas, como animais, de que este urso é um exemplo. Os orifícios encontram-se
tapados com uma tampa de plástico mais duro em forma de chapéu turco otomano (tarbush).
O que me leva a falar nele
aqui é a presença de uma capinha feita em crochet de lã, que lhe cobre os
ombros. Com este enfeite o objecto em causa deixa de ser um borrifador vulgar
para passar a ser um brinquedo (talvez) ou um boneco. O facto de a anterior
proprietária ter perdido tempo a tricotar esta capa torna-o único e estimado. Demonstra
uma ligação afectiva ao dito urso.
Não sei quando começou a
ligação afectiva entre ursos e crianças. Os primeiros Teddy Bear surgiram no início do século XX e a sua imagem
divulgou-se em bonecos felpudos e histórias em livros e filmes. Durante o século
XX todas as crianças tinham um urso, mais ou menos fiel aos iniciais, de diferentes
dimensões e materiais.
A afectividade criada pelas
crianças a estes bonecos tornava-os companheiros indispensáveis no dia-a-dia, e
a maioria viria a morrer de morte natural ao fim de pouco tempo. Outras crianças,
como eu, estimavam tanto os seus ursinhos que lhes permitia longa vida.
Saído de uma redoma, onde o meti há algum tempo para o preservar, apresento hoje ao digníssimo público o meu ursinho de estimação. Tem um olhar triste, o pêlo a cair e o feltro das patas já sofreu restauro. Apesar de tudo isto é o mais bonito do mundo, aos meus olhos, como seria o urso de plástico para a pessoa que lhe confeccionou uma capinha para o alindar.
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