sexta-feira, 12 de abril de 2019

Madre-de-louro


Foi uma autêntica descoberta para mim esta planta oferecida pela minha amiga Isabel Fernandes, para ser utilizada como infusão. Foi comprada na Ilha da Madeira no mercado de Santo António da Serra e foi-me descrita como sendo uma excrescência do loureiro, que crescia no lado virado a Norte. 
Foto tirada do site do Instituto da Florestas e Conservação da Natureza
É desconhecida no continente porque se desenvolve apenas na Madeira (na Laurissilva), na Galiza e nas Ilhas Canárias (Gomera, La Palma).
 O seu nome científico é Laurobasidium laurii, e é uma cecídea provocada por um fungo específico que vive como parasita sobre o loureiro Laurus novocanariensis. Não surge abundantemente porque só se desenvolve em árvores com mais de 10 anos. (Cruz Morais, 1987). Apresenta-se na árvore com um aspecto em hastes de veado que começam por ser verdes e vão escurecendo tomando, quando seca, esta cor castanha que aqui se vê.
 
Muito apreciada na Madeira é sobretudo na freguesia da Fajã da Ovelha que é mais utilizada. É usada em infusão sozinha ou com outras ervas, como botões de macela, erva-cidreira-de-caninha, salva-de-nossa-senhora, gervão, funcho, hortelã-pimenta, orégãos, canela-de-pau, erva-doce, noz-moscada, arruda e casca de limão, sendo adoçada com açúcar ou mel.
Tem uma aplicação vasta em resfriados, como hemostática, em doenças reumatismais, em doenças circulatórias e muitas outras indicações.
No período pós-parto, é dado às parturientes um pequeno cálice de “infusão” de madre-de-louro e alfavaca (Parietaria judaica), sempre-noiva (Polygonum aviculare), canela-branca (Peperomia galioides).
 Estes conhecimentos de sabedoria popular têm sido objecto de estudo e em 1987 Cruz Morais escreveu a sua tese de Doutoramento com um estudo etnofarmacológico para melhor perceber as utilidades medicinais da madre-de-louro. Descobriu que as substâncias bioactivas deste fungo eram lactonas sesquiterpénicas, posteriormente estudadas por outros autores.

Para além do uso medicinal a madre-de-louro também é usada para fazer licores e outras bebidas, apreciadas pelo seu sabor agradável, e a que também são atribuídas propriedades calmantes.
Já agora, também tem uso na cozinha servindo para cozinhar carne dura que, doutro modo, não seria apta para consumo.

Bibliografia:
- Freitas, Fátima; Mateus, Mª da Graça. Plantas e seus usos tradicionais na Freguesia de Fajã da Ovelha. Parque Natural da Madeira. Consultdo online a 6-4-2019 em https://issuu.com/parquenaturalmadeira/docs/livro_plantas_versao_final/4
- Morais, JMC. Identificação e acção farmacológica de alguns constituintes do fungo parasita Laurobasidium lauri (Geyler) Julich e a sua detecção na planta hospedeira Laurus azorica (Seub) Franco. Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa, Faculdade de Farmácia 1987. Consultado online a 6-4-2019 em https://digituma.uma.pt/bitstream/10400.13/626/1/MestradoMariaJo%C3%A3oCarvalho.pdf


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