Usamos
ainda hoje uma forma simplificada deste lavatório,
que designamos por lavabo. Trata-se
de um pequena taça com pires destinada a lavar os dedos após o consumo de
alimentos comidos à mão, como o marisco. Este tipo de utensílio foi o herdeiro
natural do que apresentámos como objecto mistério.
A
designação de lavabo explica-se por ser a mesma que se utiliza para os depósitos
de água com torneira para alguém se lavar. A mesma palavra refere-se, na
religião católica, à cerimónia da lavagem dos dedos e à oração que a acompanha
na missa.
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Imagem tirada da net |
Quanto
ao lavatório, no início do século XIX, surgia nos inventários de bens, como no de D. Fernando
II[1], como finger glass ou rince bouche.
Estas expressões estrangeiras explicam bem a forma como era utilizado. Ele
vinha à mesa com água tépida dentro do copo da qual se despejava uma parte na
taça. Entregues no final da refeição lavavam-se os dedos na taça, bochechava-se
com a água do copo que se deitava na taça já utilizada e o todo era recolhido. Era
por esta razão que os lavatórios eram em vidro opaco, branco, ou azul em vários
tons. Nalguns casos, como nalguns existentes ainda nas reservas do Palácio da
Vila em Sintra, eram em vidro espesso espiculado, que igualmente lhes retirava
transparência.
Estiveram
em grande moda na corte de D. Maria II. O Marquês de Fronteira, D. José de
Trazimundo, nas suas memórias descreveu uma cena passada com o representante de
França em Portugal, em 1848, Mr. Mallefille[2]. Desconhecendo as regras
de etiqueta da época bebeu a água tépida. Tivesse ele lido o livro Manual
de Civilidade e Etiqueta e
evitar-se-ia esta cena.
[1] Inventário
das Louças antigas e modernas que sairam da real Mantearia... 1857. ANTT.
AHMF.CR. Cx 4471.
[2] Pereira, Ana Marques, Mesa Real, p, 172.
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