Tive a grata surpresa de me
ser oferecido um moinho de pedra para especiarias, que tinha vindo há várias
dezenas de anos de Goa portuguesa.
Uma amiga de um amigo meu, tendo
conhecimento do meu sonho de fazer um museu de objectos de mesa e cozinha pensou
que eu era a melhor pessoa para receber este objecto com cerca de 50 quilos.
Foto em Goa tirada da internet |
A sua informação era de que a
designação do objecto seria «rogró», de acordo com uma publicação de que me facilitou
cópias. Parecia fácil pesquisar mas a palavra não aparecia em lado nenhum.
Depois de vários dias na pista
do objecto percebi que não ia ser assim tão fácil. Na realidade a ideia de moer cereais e
especiarias utilizando duas pedras é tão antiga como o homem e encontram-se na
natureza escavações em pedras que funcionaram como moinhos na pré-história.
Mercado em Goa. Foto tirada do Flick da autoria de joegoauk18 |
Podemos portanto encontrar uma variedade
enorme de formas e sobretudo de designações para este tipo de moinhos.
Na nossa civilização são nos
ainda familiares os almofarizes em pedra existentes até ao século XIX nas
grandes cozinhas que serviam para moer muitos dos constituintes necessários
para a confecção dos pratos. Em Portugal eram sobretudo feitos em mármore sendo
colocados sobre grandes cepos de madeira.
Metate e mano para moer cacau. Foto tirada da internet |
Mas voltemos ao objecto em
causa. À primeira vista fez-me lembrar um Metate
com um Mano, que conhecemos melhor,
usado
na América do Sul para esmagar os grãos de cacau para fazer chocolate.
Faathon. Desenho em http://tonferns.blogspot.pt/ da autoria de Tony Fernandes |
Na Índia este tipo de moinhos
são habitualmente feitos em granito sendo sobretudo usados para esmagar as
especiarias indispensáveis à confecção dos pratos. Em inglês chamam-lhe «masala
grinding» por ser usado para esmagar as especiarias utilizadas para fazer
masala. Em Goa, de acordo com imagens de mercados publicadas na internet, podem
encontrar-se três tipos de moinhos. O aqui apresentado feito com um pedra
achatada, existe em vários tamanhos e designa-se Fatorn. Nele as especiarias são esmagadas com uma pedra cilíndrica,
semelhante ao mano, designada Fatnicho Fator que, segura com as duas
mãos, rola sobre a pedra horizontal.
Foto tirada da internet |
Um outro tipo de moinhos de
pedra é semelhante aos nossos almofarizes mas mais denso sendo apenas escavada
uma cavidade central onde são introduzidas as especiarias. É designado Rogddo (daí a adaptação para rogró) ou Ghonnsuno e nessa cavidade é introduzida
uma espécie de pilão, de forma ovóide, igualmente em granito chamado Ghonnsunneacho ou Rogddeacho.
O "meu" Fator e Fatorn |
Existe ainda uma terceira
espécie de moinhos de pedra, constituída pelo conjunto de duas pedras
circulares que rodam sobre si e que e é usado para esmagar cereais, como arroz,
trigo, etc. Chama-se Dantem e é em tudo
idêntica à utilizada no Algarve até há alguns anos, igualmente para moer
cereais como o milho.
Mó para cereais no Museu de Lagos |
Num dicionário de
Konkani-inglês encontrei as palavras: Fator,
que significa pedra; Fator Vanttunchi
que corresponde a moinho de pedra. Quanto às palavras Rogddo e Dantem era
traduzidas por moinhos de cereais.
Para complicar mais as coisas
pedras idênticas são usadas na Malásia onde em malaio estas pedras de moer se
designam Batu giling.
Penso que podia ainda
apresentar mais vocábulos noutras línguas para objectos idênticos mas, para quem
não sabe nada do assunto, já falei demais.
PS. Agradeço à Isabel Faro a
oferta do moinho que suscitou esta publicação.
2 comentários:
https://www.facebook.com/Vintage.et.Industrial/videos/368499093499218/
Talvez já conheça mas achei interessante ainda sobre o tema da tecnologia.
Luís Filipe Gomes,
Agradeço a informação. Cumprimentos
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