Foi um acaso
descobrir este livro de Curso dos Quintanistas de Medicina de 1938-9. Estes
livros de final de curso, sobretudo de Medicina e de Direito, foram muito
frequentes na primeira metade do século XX, em especial entre 1920 e 1960.
Neles surgia uma biografia humorística e um desenho de cada aluno, feitos por artistas ou colegas mais ou menos talentoso. Em poucas linhas desenhava-se uma imagem do caricaturado, com as suas características de então e o que se esperava que fossem no futuro. Na grande maioria são desinteressantes e não conhecendo os visados despertam-nos ainda menos a curiosidade.
Neste volume, em concreto, descobri o meu grande mestre e Director de Serviço, com quem aprendi Hematologia e me ensinou a ser uma médica responsável. Trata-se do Dr. Renato Valadas Preto que, juntamente com o Prof. Ducla Soares foram os fundadores da Hematologia em Portugal.
A sua figura de
pequena dimensão contrastava com a sua enorme inteligência. Tive sempre um
fraquinho por pessoas inteligentes, o que reconheço ser uma injustiça porque
não corresponde a um esforço da pessoa. Nasce-se inteligente e depois pode
desenvolver-se a mesma ou aplicá-la a fins mais ou menos elaborados. Mas a
genética é fundamental. No caso do Dr. Valadas Preto que, normalmente era
calado, mas atento, arguto e irónico, as palavras tinham um peso tremendo. Ouvir
as suas afirmações era como acompanhar uma engrenagem mental a trabalhar de
onde saía uma conclusão brilhante. Nunca conheci ninguém assim até hoje, apesar
de ter o prazer de conviver e de me cruzar com pessoas com inteligência acima
da média.
Recordo ainda alguma das suas frases sublimes, uma das quais me vem muitas vezes ao espírito, quando alguém faz uma observação inadequada. De forma sóbria dizia: “Não vem a propósito, nem é brilhante”. Terminava, naquele momento, a conversa de ocasião.
Dentro do livro encontra-se também o programa da récita e, imaginem, a ementa dos 25 anos de curso, em 1964. Vale a pena analisar as personagens e os pormenores.
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