Os sabores
agridoces tornaram-se o símbolo da cozinha aristocrática medieval, presentes
nas principais obras de culinária da época.
Os molhos eram
preparados com um líquido de sabor ácido (vinagre, agraço, vinho, etc.) aos
quais se adicionavam elementos aromáticos, “gengibre, canela, cravo-de-cabeça,
pimentão, macis, açafrão, noz-moscada, plantas aromáticas, e açúcar ou mel,
considerados na época como especiarias”.
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Frontispício do livro Hesperides, 1780 |
A partir do
século XIV o limão, surgindo timidamente, tornou-se num alimento requintado.
Estava já presente no 1º tratado de culinária francesa, Le Viandier, de Guillaume Tirel, conhecido como Taillevent
(1310-1395). |
Le Viandier. Taillevent |
Os Medici tiveram uma verdadeira paixão pelos
limões que começou no início do século XV com Cosimo de Medici que plantou
citrinos em grandes vasos e continuou com Francesco I de Medici (1541 – 1587).
Na sua Villa, perto de Florença, criou uma limonaia, isto é, uma estufa
com citrinos.
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Bartolomeo Bimbi. Citrinos dos Medici. |
O seu descendente Grande Duque Cosimo III
(1642 – 1725), ampliou a colecção, tendo chegado a cultivar 116 variedades
de critrus no seu jardim. Esta diversidade foi documentada por
Bartolomeo Bimbi que as pintou. |
Hesperides. 1708. Laranja de Portugal |
Este culto pelos citrinos, em especial o
limão e as suas variants, mostrou-se nos séculos seguintes com uma culinária em
que se mantinha o recurso aos ingredientes ácidos, embora numa
proporção menor. São então mais variados do que na Idade Média, visto que o
sumo de laranja amarga, e mais ainda o sumo de limão, se vieram juntar ao vinho
branco, ao vinagre e ao agraço, na confecção dos molhos. |
Jean Davidsz de Heem, séc. XVII |
Sendo um
produto de luxo e o seu aparecimento nos países frios do norte da Europa, foi
um triunfo da ciência e da botânica. Em consequência multiplicaram-se as
pinturas de naturezas mortas em que o limão marcava presença no século XVII,
sobretudo nos países baixos. É que a presença de limão à mesa era sinal de
abastança.Hesperides, 1708. Limão de Portugal
Mas se a beleza
das múltiplas pinturas é mais conhecida, que dizer dos primeiros livros sobre
citrinos. Refiro-me à obra do botânico Johann Christoph Volkamer (1644-1720),
publicada em 1708 e com o título impressionantemente extenso As Hespérides
de Nuremberg, ou: uma descrição detalhada dos frutos nobres da cidra, do limão
e da laranja amarga; como estes podem ser correctamente plantados, cuidados e
propagados naquela e nas regiões vizinhas. Nele podemos encontrar imagens de
o Limão e da Laranja de Portugal. |
Frontispício do livro de Ferrari, 1646 |
A sua estética com laços coloridos onde se
podiam ler os nomes dos locais de origem dos citrinos foi influenciada por um
livro anterior de Giovanni
Baptista Ferrari publicado em 1646 e igualmente chamado Hesperides sive de
Malorum Aureorum Cultura et Usu Libri Quatuor. Falando sobre citrinos
defendeu o uso de orangeries, para protecção dos frutos nas zonas frias,
tal como nas zonas mais quentes.
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Estufa. Livro de Ferrari, 1646. |
Na realidade estas estufas serviam de abrigo às
várias árvores citricas que, colocadas em grandes vasos, entravam e saíam de
acordo com as estações, como ainda hoje acontece nalguns palácios históricos.
Aqui ficam as belas imagens e voltarei ao tema para
explicar porque o escolhi.
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