quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

O óleo de fígado de bacalhau. O melhor caminho para a saúde

 

O óleo de fígado de bacalhau é um assunto que me atrai tanto que imaginava já anteriormente ter falado nele. Descobri, com surpresa, que tal não aconteceu. Na minha infância consumi quantidade imensas deste fortificante que o meu pai me obrigava, e ao meu irmão, a beber. Estranhamente não desgostávamos do paladar, ao contrário de todas as outras crianças da nossa idade, para quem a toma deste medicamento era um drama diário.

A ingestão de óleo de peixe já era considerada como saudável há muitos séculos nos países nórdicos.  Foi contudo apenas em 1841 que um médico inglês, de Edimburgo, John Hughes Bennett, publicou um tratado sobre o Oleum Jecoris Aselli, ou Óleo de Fígado de Bacalhau, após passar alguns anos na Alemanha onde este era usado no tratamento de raquitismo, do reumatismo, da gota e da escrófula (uma forma de tuberculose).

Este assunto levou a novas pesquisas sobre o óleo de fígado de bacalhau em vários países. Na Holanda, Ludovicus Josephus de Jongh, produziu a primeira análise química extensa de fígado de bacalhau em 1843. Mas o grande problema era o sabor e o cheiro altamente desagradáveis ​​que impediam o seu uso.


Foi  em 1873, que Alfred B. Scott e Samuel W. Bowne, em Nova Iorque começaram a fazer experiências para tornar o óleo de fígado de bacalhau menos enjoativo. Ao fim de três anos fundaram a empresa Scott and Bowne, com o fim de comercializar a  chamada Scott's Emulsion. Apoiados na publicidade e com fábricas em vários países como Canadá, Inglaterra, Espanha, Portugal, Itália e França, e anunciaram sua emulsão em todo o mundo.

A primeira marca destra empresa  Scott e Bowne, foi  registada em 1879. Incluía as iniciais P.P.P. e três palavras - "Perfeito, Permanente, Saboroso". A  publicidade explicava que o mau gosto não era sentido porque as gotas de óleo eram cobertas com glicerina, assim como os comprimidos eram cobertos com açúcar ou gelatina.

A imagem do homem com o peixe nas costas, que em Portugal era designado como “peixeiro”, apareceu pela primeira vez na Emulsão de Scott cerca de 1884 e tornou-se a marca registada de Scott e Bowne em 1890.

A reputação do óleo de fígado de fígado como um tratamento eficaz para o doenças consumptivas mortais durante o século XIX, como a escrófula, tísica, tuberculose, raquitismo e reumatismo levaram ao seu grande consumo, que durou ainda bastante tempo. A  publicidade nas décadas de 1940 e 1950 enfatizava a presença das vitaminas A e D naturais e valorizava os factores de óleo natural para o fornecimento de energia dos produtos Scott.

Esta ideia manteve-se pelo menos até que os cientistas descobriram o papel da Vitamina A e D e as conseguiram sintetizar. As substituições sintéticas vieram interromper o imaginário que ligava  o peixe, o pescador, a terra do sol da meia-noite e a gordura especial que este peixe produzia. A emulsão de Scott terminava o seu apogeu.

Em Portugal o produto de maior sucesso foi o óleo de fígado de bacalhau da Arriaga & Lane que recebeu vários prémios de qualidade, em exposições nacionais e internacionais. Na sua publicidade, afirmava-se que era o preferido entre todos e que reunia  a escolha de médicos e professores da Real Escola Médica de Lisboa e do médico da real câmara. Era usado em várias instituições como o Hospital de S. José, a Real Casa Pia, a Associação de Asilos, Asilo D. Luís, a enfermaria de crianças do Hospital D. Estefania, etc..

Apropriadamente, em Lisboa, a Arriaga & Lane tinha depósito na rua dos Bacalhoeiros, 135 - 1º e, no Porto, na rua Passos Manuel, 72-76 (Manuel Francisco da Costa & Cª). Também se vendia no Brasil. Face à concorrência de produtos externos, que já se apresentavam em cápsulas, a Arriaga & Lane passou a vender o seu precioso óleo neste formato, mas a metade do preço.

Curioso é notar que na década de 1970, o médico dinamarquês Jorn Dyerburg relacionou dietas baseadas em peixes oleosos de água fria a uma baixa incidência de doença coronária entre os inuítes da Groenlândia. O seu trabalho desencadeou mais estudos sobre os benefícios para a saúde dos ácidos gordos  ómega-3, abrindo caminho para a produção de inúmeros suplementos de óleo de peixe hoje existentes.

Esta pesquisa sugere que afinal há mais valor terapêutico do óleo de fígado de bacalhau do que a que advém das vitaminas identificadas inicialmente. Qualquer dia ainda vamos voltar à emulsão Scott.

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