Refiro-me às cortinas de prateleira ou de armário que conferiam uma beleza especial às cozinhas. Podiam ser em papel ou em renda, mas as bordadas eram as mais bonitas.
Os modelos saiam em revista de
bordados como o exemplo aqui apresentado. Os desenhos eram depois adaptados às
dimensões das cozinhas e das prateleiras.
Quando no final dos anos 90
visitei várias cozinhas do país encontrei ainda algumas, já poucas as bordadas,
mas sobretudo em papel. Vi mesmo cortinas de prateleira feitas em papel de
jornal recortado e perfurado, que se usava em casas mais pobres.
Conto aqui uma história comovente que não terei hipóteses de contar noutro local. Visitei em Penacova uma cozinha lindíssima mas que se percebia que a senhora de idade que habitava a casa passava agora por dificuldades económicas. A cozinha estava muito bem arranjada e as prateleiras apresentavam-se todas decoradas com papel colorido.
Perguntei-lhe
onde o comprara porque nessas minhas andanças procurei recolher o maior número
de exemplares ainda à venda. Disse-me o local mas infelizmente encontrava-se
fechado. Deixe 20$00 e pedi-lhe se me comprava algumas que me entregaria de
forma a combinar. Passaram-se os meses e um dia recebi uma carta de Penacova,
escrita com letra de pessoa pouca letrada. Lá dentro vinham os 20$00 e uma
explicação: não tinha podido comprar o papel porque já não havia.
Fiquei impressionada pelo cuidado. Uma atenção hoje impensável, porque se deixou de efectivar os compromissos.
Voltando as cortinas de pano
mostro aqui alguns exemplares bordados lindíssimos. A modernização das cozinhas
a partir dos anos 50, sobretudo nas casas que adoptaram os modelos americanos,
num imaginário transmitido pela filmografia, acabaram com estes pormenores.
Eu continuo a gostar imenso e só não as uso, estas ou outras, para as preservar. Estão religiosamente guardadas para memória futura.
Sem comentários:
Enviar um comentário