Pormenor de fotografia estereoscópica |
Esta profissão tão antiga era designada
galinheira e referia-se à pessoa que
tratava das galinhas mas também a quem as vendia, funções que frequentemente se
completavam.
Pormenor de papel de Prateleira |
Existiam também galinheiros, mas a referência a esta actividade
masculina é mais rara.
A primeira vez que me deparei
com esta profissão foi quando fiz a investigação para o livro Mesa Real e em
que encontrei o nome de Josefa Rodrigues, que surgia frequentemente nos
pagamentos da Casa Real. Foi galinheira da Ucharia Real, pelo menos desde 1759.
Nessa data era já viúva de Manuel Pereira e morava na cidade de Lisboa, a
Nossa Sª dos Remédios. Fornecia toda a variedade de criação onde se registavam,
para além dos animais que hoje nos são familiares, as rolas, os adéns, as frambolas,
os pássaros, as marrecas, canárias, perdigotos, galinholas, tordos, etc[1].
Vendedor de Patos. Porcelana de Vista Alegre |
Esta tipo de venda fazia-se
também em lugares públicos como nos mostra o requerimento de Maurícia Rosa da Conceição,
galinheira, solicitando licença para um lugar de galinheira na Praça Nova da Figueira,
em 1816[2].
Nas grandes cidades como em
Lisboa, Porto, Coimbra e Braga, como aqui se demonstra, era sobretudo uma
actividade ambulante. Em Lisboa a sua presença típica, em que os animais eram
contidos em cestas cobertas com uma rede, transportadas à cabeça pelas
vendedoras, durou até meados do século XX. Várias fotografias e gravuras
imortalizaram essa profissão.
Figuras típicas de Lisboa. Pormenor de papel de prateleira |
Percorriam as ruas chamando as suas clientes
através de refrão que cantavam bem alto: «Éh galinhas! Merca frangos! Galinhas!
Quem nas quer e com ovo?».
Durante muitos séculos o seu
consumo tinha sobretudo um intuito medicinal. Destinavam-se à canja dos doentes
e apenas em situações de festa as víamos surgir à mesa dos mais abastados. As
galinhas eram caras, razão para que fizesse sentido o ditado: «Quando o pobre come
galinha um dos dois está doente».
Transportadas por estas mulheres
indefesas, que muitas vezes eram assaltadas durante o que se chamava atravessamento
de galinhas, razão
porque também foram chamadas Travessadeiras de
galinhas.
Fotografia de criança mascarada de galinheira |
Ficamos
por aqui, neste desfiar de memórias e registos sobre as galinheiras, a propósito
de uma foto em que salientámos o papel da vendedeira, mas não esqueçamos o do
cozinheiro, o comprador, que quase afaga as aves para escolher a melhor para transformar
na sua casa. Uma bela imagem perdida no tempo.
[2] ANTT. Ministério
do Reino, mç. 878, proc. 50
[3] AHMC,
Vereações, L.º 64.º, sessão de 11.12.1751.
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