Nesse dia escreve-lhe quatro
postais. No primeiro relata que são 9 horas da manhã, que havia tomado um
almoço ligeiro, e que ia partir acompanhado (as frases estão no plural) para
Mafra onde lanchariam (lunchariam, no
texto). Informa que tencionam jantar em Sintra e que viriam dormir a Lisboa.
No segundo postal relata: «São
três horas. Escrevo-te da Biblioteca de mafra voltado para D. João V. Estamos
bem.».
O terceiro postal é já escrito
da Ericeira, às quatro horas, e a informação é sucinta: apenas local e hora.
Os postais foram entregues nas
próprias localidades e apresentam os carimbos de Mafra e da Ericeira e dois
deles são elegíveis, mas é de crer que o último terá sido enviado de Sintra. A apaixonada
recebeu as mensagens em Vila do Conde nos dias 24 e 25 de Maio, certamente com
imenso prazer porque percebeu o que não estava dito: a sua presença constante
mesmo estando ausente.
Os postais são de extrema
beleza, em estética Art Nouveau, em
cores violeta e cinzenta, pontilhados por dourados, presentes também nos
filetes circundantes, dificilmente visíveis nestas imagens. Para além do que sugerem
esclarecem-nos também sobre o horário e designação das refeições no início do
século XX. Percebe-se que antes das nove horas já haviam tomado o almoço, designação então dada ao pequeno-almoço.
Em Mafra teve lugar o almoço então designado lunch, que às três horas já havia terminado uma vez que foi a essa
que teve lugar a visita à Biblioteca. Por fim o jantar teve lugar em Sintra no
Hotel Nunes[1]
às 6 horas da tarde, a que se seguiu o regresso a Lisboa.
Hotel Nunes |
Ao constatar esta sequência de
informações não pude deixar de me lembrar dos novos meios de comunicação
(telefones portáteis, mensagens escritas, etc.) e das redes sociais que, estou
certa, Abel ia adorar.
Muitas informações tiradas
apenas de postais. É o que dá estar a organizar os postais que se foram
acumulando. Já cá estão há muito tempo mas descobri-os agora e devo dizer que
depois destes me apetece falar noutros. Espero que gostem destas descobertas
simples.
[1] O Hotel
Nunes, um dos mais conhecidos da então vila de Sintra, na segunda metade do século XIX, situava-se junto ao
Palácio da Vila e foi destruído para dar lugar ao incaracterístico Hotel Tivoli Sintra.
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