O requinte do interior desta
loja chamou-me à atenção. Trata-se de um anúncio publicado numa revista francesa
de antiguidades «abc decor» de 1968.
Podemos observar uma montra no
interior da casa Audoire, charcutier-traiteur,
em Paris, que presumo já não exista porque não consegui encontrar qualquer
informação na internet.
Na montra, decorada com
extremo gosto e cuidado, podemos ver travessas de pequenos salgados, canapés,
patés, aspics, assados, etc., que se presumem serem produtos relacionados com a
arte de charcutaria. Na realidade o proprietário identifica o seu nome ao
ofício de charcutier-traiteur. Procurei
encontrar tradução correcta para o português, mas embora tenhamos tido
charcutarias finas (estou a lembrar-me dos Três Porquinhos, ao Rato), não
corresponde exactamente ao mesmo.
Traiteur ambulante in Costumes de toutes les Pays |
Vejamos: existe uma diferença
entre restaurateur (“restaurador” no
sentido antigo de proprietário de restaurante: o que restaurava as forças) e traiteur. O primeiro, tradicionalmente,
serve as refeições no local, a troca de pagamento, enquanto o segundo, embora
realize as mesmas funções estabelece um contracto de serviço que lhe permite
realizar essas refeições em casa do cliente, numa instituição, ou onde for
acordado. Mais modernamente diríamos que é uma pessoa que fornece catering. Na realidade este profissional
está preparado para servir, de forma completa um grande número de refeições,
mas também prepara iguarias que podem ser encomendadas no local e levadas para
casa. Assim é um fornecedor de alimentos mas a que se associa a ideia de delicatessen.
Empregada de Traiteur. Costumes de Ouvriers. In Gallica |
No século XIX em França
existiam vários tipos de traiteurs,
como o traiteur-rôtisseur, que tinham também nos seus estabelecimentos uma table d'hôte. Isto significava que tinham
uma mesa com menu fixo para servir clientes, o que acontecia também em
Portugal, na mesma época em hotéis e restaurantes.
No caso presente o proprietário
era um charcutier-traiteur, o que significa que podia servir no local,
ou ao domicílio, produtos relacionados com a charcutaria. No próprio anúncio é exemplificado
que, no que respeita ao local, dispunham de: sala, material, roupa de mesa,
louça e serviço de vidros.
Book of Buffets, 1968 |
Publicitavam as suas especialidades que eram as
seguintes: terrines de aves, de patos ou de coelho em porcelana d’Auteuil*,
mas também o foie-gras, salsichas em brioches e toda a pastelaria. Tinham
capacidade para servir pequenos jantares, almoços (lunchs) até 100
pessoas, em especial para festejos de comunhões, baptizados e casamentos.
Poulard á la Godard, Joules Gouffé. |
A apresentação das iguarias fazem
lembrar as imagens publicadas no livro, The Professional Chef's Book Of Buffets,
de 1968, ainda na linha das elegantes construções do século XIX da autoria de
Joules Gouffé. Como as apresentações elaboradas de hoje nos parecem simples.
* À frente de quem esteve Jacques Lobjoy que, em
1968, lançou o primeiro serviço de mesa designado Chambord, recuperando imagens do séc. XIX, tal como na série «Caça»,
com desenhos de Jean Charles François Leloy (1774-1846), que seriam mais provavelmente
os escolhidos para a casa Audoire.
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