A minha amiga Adriana, transmontana
dos sete costados, ofereceu-me na última vista uma refeição transmontana com
casulas, botelhoco e entrecosto.
Nunca tinha comido botelhoco
que na realidade é uma abóbora no estado imaturo que permite cozinhá-la com
casca. É cortada em fatias e estufada com cebola, azeite e sal. Tão simples
como isto. Mas para a fazer é evidente que tem que se ter este tipo de abóbora,
nesta fase de maturação.
Não sei dizer qual a variedade
de abóbora utilizada mas mostro-lhes alguns exemplos das abóboras cultivadas
pela minha amiga.
Depois desta refeição constatei
que me faltava esta palavra no livro Do
Comer e do Falar. Vocabulário
Gastronómico, que escrevi em colaboração com outra amiga, a
Graça Pericão. Vejamos então os vocábulos relacionados existentes no mesmo:
BOTELHA –
Galicismo que designa um recipiente, geralmente de vidro, provido de um gargalo
estreito e tapado com uma rolha onde se conservam bebidas ● Vinho ou licor nela
contido ● Espécie de abóbora. Batefa. Cabaço. Colondro. Na Beira-Baixa designa
o mesmo que Abóbora.
BOTELHA
COM LEITE – Doce da Beira-Baixa feito com abóbora cozida (botelha) a
que se junta leite e açúcar. Serve-se decorado com canela.
BOTELHEIRO
–
Pessoa encarregada da frasqueira e dos vinhos engarrafados.
BOTELHO
(reg.) – Abóbora pequena (Riba Côa).
“Botelha” tem origem na palavra
francesa bouteille, do latim butticula, segundo José Pedro Machado.
Os nossos irmão espanhóis usam a palavra botella
apenas para a garrafa de vidro, descrita no Dicionário
de Autoridades (1726) como «Redóma de vidro mui doble
negra, con el cuello angosto, que contendrá à lo mas dos ù tres quartillos de vino,
las quales se usan oy mui comunmente para traher vinos de fuera y otros
liquóres».
É verdade que também há quem
chame nalgumas zonas transmontanas “botelho” ao “botelhoco”, em ambos os casos
referindo-se a uma abóbora jovem, mas sendo assim devia surgir no nosso
dicionário como sinónimo. Não me safo.
A palavra vai engrossar a
lista das palavras que serão adicionadas se existir uma reedição e que entretanto
vamos descobrindo. Fazem o favor compram o livro (que na minha opinião suspeita devia ser de leitura obrigatória nas escolas hoteleiras) para eu poder acrescentar o
vocábulo na nova edição.
2 comentários:
Na terra da minha mulher, Sernancelhe, esse petisco chama-se abôboro (abobora imatura ) que se come com casca e sementes.
No Alto Minho a abóbora é chamada de cabaça, na zona de Viana chamam-lhe côco. O termo botelha é reservado para as do tipo cabacinha de Santiago que servia para levar o vinho para as fainas agrícolas ou romarias. Na minha meninice anos 50 e antes da massificação dos plásticos, as botelhas eram usadas pelos pescadores minhotos como bóias para sinalizar os extremos das redes. Meu pai referia ter aprendido a nadar com duas botelhas atadas ao tórax. Cumprimentos vianenses.
Álvaro Silva,
Muito obrigada pelas suas informações sobre regionalismos sobre abóboras que enriquecem os dados que já tínhamos. Cumprimentos.
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