Alvarez nesta sua pintura
fixou um momento, possivelmente no Porto, em que figuras humanas, sempre representadas
por silhuetas escuras, passam à frente da Adega do Galo. É esta taberna de
venda de “vinhos tintos e brancos”, o motivo central. A palavra «galo» foi
substituída pela imagem do animal, reforçada pela presença do dito e de uma
galinha que se passeiam num ressalto sobre o anúncio que ocupa a frontaria do
modesto edifício. Na escuridão do interior vê-se a imagem de um cliente junto
ao balcão e cá fora adivinham-se dois outros clientes, um bebendo ainda e outro
vomitando o vinho que já havia bebido.
A representação de pessoas que
se passeiam pela cidade, como sombras negras de si mesmo, sempre inclinadas,
que abundam na obra de Domingos Alvarez inspirou um livro infantil de José
Viale Moutinho intitulado «A cidade das pessoas tortas». Não tive oportunidade
de ler o livro, mas o título não podia ser mais apelativo e adequado para
descrever a crianças uma visão alternativa e atraente deste mundo intrigante de
um pintor que em vida não teve reconhecimento.
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