Foto tirada do blog Deelightfully Veg |
Por razões pessoais tenho-me
deslocado frequentemente à Covilhã. O Hotel onde ficamos tem ao jantar um buffet
agradável, mas da penúltima vez o que nos surpreendeu foi a excelente qualidade
das sobremesas.
Foi portanto com entusiasmo
que cheguei à hora do jantar, mais com a expectativa dos doces do que dos
salgados, o que para mim era uma novidade. Normalmente evito sobremesas fora de
casa porque não compensa o mal que fazem pelo sabor que oferecem, normalmente
apenas a açúcar.
Quando comuniquei o meu
entusiasmo à pessoa que nos recebeu foi-me dito que eram sempre diferentes, o
que era natural. Naquele dia para além das frutas havia um leite-creme bom, um
bolo húmido em fatias que não experimentei e panacota de chocolate. Esta apresentava-se
dentro de um frasco de vidro decorada com framboesas e nozes. Esta moda do frasco
de vidro aceito (até nos cansarmos) mas numa panacota não nos permite ver a sua
consistência. Quando a experimentei era uma pasta dura, onde dificilmente a
colher entrava, sem gosto e sem açúcar, na realidade incomestível. Decepcionada
chamei o empregado da sala e disse-lhe que aquilo não era panacota e que não
sabia o que era. Foi saber e quando voltou disse-me que era uma receita da
nutricionista no sentido de ter uma sobremesa menos calórica. Era feita com
leite de soja e estivia e por lapso não estava identificada como opção
saudável.
Imagem do blog Panning the Globe |
Expliquei-lhe, apesar de não
ter culpa, que panacota (panna cota)
significava natas cozidas e que portanto não podia ser feita com leite e ainda
menos com uma coisa que não é leite porque não existe nenhum animal chamado “soja”
que dê leite. Por outro lado o que caracteriza esta sobremesa de origem italiana
é a sua consistência gelatinosa, isto é, no prato deve tremer. Portanto o
melhor era dar outro nome àquela sobremesa, como por exemplo: «sobremesa saudável,
sem calorias, sem açúcar e sem sabor» e assim já não enganavam ninguém.
Foto tirada da internet |
Este pequeno incidente
despertou em mim uma profunda irritação contra esta profusão de nutricionistas
que interferem agora também nas receitas em restaurantes. São centenas (ou
milhares?) de meninas jovens, com a beleza e elegância natural da idade, que
não sabem estrelar um ovo e saem da Faculdade a querer transformar a
alimentação dos outros. Tem uma aptidão natural para as câmaras de televisão,
ou vice-versa, e entram-nos pela casa adentro quando menos damos por isso.
Quando eu trabalhava como
médica no hospital, em serviços de Oncologia, lamentava que não existissem
nutricionistas para apoiar os doentes. Falava com as dietistas e acabei por
escrever um livro destinado à alimentação dos doentes oncológicos, uma vez que
não havia outro. Não sei se nessa altura ainda não tinham saído da Faculdade
nutricionistas suficientes ou se estavam todas (não sei porquê mas o predomínio
é feminino) na televisão.
Agora é esperar que esta moda
passe e que eu possa comer nos restaurantes pratos salgados ou doces feitos e
pensados por cozinheiros. Não é pedir muito, pois não?
PS. Não fotografei a sobremesa pelo que as imagens não correspondem.
6 comentários:
Concordo absolutamente com a colega. Andam por aí muitas "dótoras" de batas esvoaçantes e garras envernizadas de rútilo vermelhão ou de verde alface ( Ai se o prof Joaquim Bastos da F. M. U. P. as apanhasse numa oral) a opinar sobre dietas, calorias e desinterias, quando e como bem diz não devem saber "fertir" um ovo sem o esfarrapar, quanto mais fazer um caldo ou apurar um guisado. Cumprimentos, Álvaro (16897 om)
Alvaro Silva,
Agradeço o seu comentário que felizmente é de concordância. Estava à espera de ser agredida. Pelo menos desta vez já me safei. Na realidade é o que pensa muita gente. E eu fui muito moderada nos meus comentários que mentalmente vão mais longe. Cumprimentos. (Já agora 14398 OM)
Eu ri sózinho a ler!
Luis Filipe Gomes,
Ainda bem. Ao que chegámos. Cumprimentos
Apoiado 100%. Gostei mesmo foi do animal chamado "soja"!
Isabel Kiki
Isabel Kiki,
É um animal raro. Só se encontra nalguns Zoos. Bj
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