Quando escrevi o livro «Licores
de Portugal: 1880-1980» dediquei um capítulo às várias ginjinhas lisboetas e
aos seus fabricantes.
Na história da Ginjinha Espinheira conhecida também
por “Ginjinha do Rossio” fundada em 1840 pelo pai de Francisco Espiñeira
Cousiño (de que se desconhece o nome) surgia um mistério em relação a um dos
licores. O fundador foi o primeiro elemento da família a vir da Galiza para
Portugal. O seu filho Francisco herdou a pequena loja ainda hoje existente e comprou
a primeira fábrica de licores na rua Damasceno Monteiro. Tendo ficado à frente
do negócio dos licores naturalizou-se em 1896 português.[1]
Em 1906 fez o primeiro pedido
de registo de uma das suas marcas, a «Ginja Bebida Peitoral e Digestiva», bem
como do «Licor de Hortelã Pimenta Superior»[2]. Foi também em 1906 que
registou a marca «F. Espinheira 1º fabricante», com a foto do mesmo dentro de
um círculo, a que se sobrepõe um outro círculo com idêntica imagem do Zé
Povinho[3].
Em 1907 registou uma marca chamada
«Licor dos Benitinhos»[4] de que nunca vi qualquer
garrafa ou rótulo. Apresentava a foto de dois homens risonhos, já de idade
avançada. Esta imagem não fazia qualquer sentido dentro da tipologia dos
rótulos de licor da época e sobre ela escrevi: «parece só fazer sentido para
quem os conhecia e não deixou história».
Há dias ao folhear a revista Branco e Negro de 1890 deparo-me com uma
fotografia de A. Bobone com a legenda «Dois moços de recados». A imagem encontrava-se
sob o título «Typos de Lisboa» e nada acrescentava.
Não havia dúvida eram os
«Benitinhos» que deram lugar ao título do licor e que, a avaliar pelo
fisionomia, deviam ser galegos. Ficou esclarecido o mistério. Eu tinha razão
quando escrevi que tal imagem só faria sentido dentro de um contexto familiar que
neste caso era o de umas figuras que à época deviam ser conhecidos nas ruas de
Lisboa.
PS: A expressão «moços»
aplicado a homens de idade já avançada não se relaciona com juventude mas com
uma função ou ofício:«moço de recados».
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