segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Os Cafés Negrita

À frente da firma Cafés Negrita, S.A., está hoje o sr. Carlos Pina (n. 1926), onde começou a trabalhar precisamente em 1946 com o seu pai, um dos sócios fundadores. Em 1924 quando teve início esta empresa, contava com seis elementos fundadores que passaram depois para quatro.
Zona de Empacotamento
Quando o pai faleceu, em 1973, ficou com a cota do pai, e foi posteriormente adquirindo novas posições até ficar, nos anos oitenta, com 70%. Em 1993 adquiriu o resto das cotas, ficando também com a firma A Carioca, Lda. Presentemente é com a sua filha Helena que reparte as funções administrativas.
Situada em Lisboa, na Rua Maria Andrade, 18, aos Anjos, foi inicialmente um armazém de mercearia e uma torrefacção de café. No princípio, a torra era feita a lenha, em torradores de bola e em máquinas de ar quente Probat.
Actual máquina de torrefação
Quanto às mercadorias vendidas incluíam-se: sabão, bacalhau, conservas nacionais e importadas, especiarias e café. Este vinha nessa altura de Angola (Café Novo Redondo de CADA[1]), de Cabo-Verde, de S. Tomé e de Timor. Após o 25 de Abril o café vinha ainda de Angola e Timor, mas começaram também a importá-lo do Uganda, da Costa do Marfim, da Índia e, embora em menor quantidade, da Indonésia.
 A actividade como torrefadores manteve-se até hoje, tendo todo o sistema sido modernizado e presentemente se encontre informatisado. Para além da torrefação do café, é feita também a de cevada, nas variedades Santa, Distíca e Pragana, e de outros sucedâneos, como a chicória e o grão preto.
Não há muita informação sobre a empresa que registou apenas alguns dos seus produtos e investiu muito pouco em publicidade. Não fizeram catálogos e o presente proprietário apenas se recorda de uma campanha em que ofereciam colheres de alumínio dentro dos pacotes de cevada.

A imagem inicial da firma «Negrita», registada em 1928[2], apresenta o busto de uma jovem negra, de argolas nas orelhas, envolvida num pano africano e com uma chávena de café na mão. Foi utilizada em caixas de folha-de-Flandres destinadas a café. Ainda em 1928 foi também registada a marca para a «Ccevada Negrita», utilizada nas primeiras embalagens em cartolina e onde surgia uma esfinge egípcia, dentro de uma oval, envolvida pela representação estilizada de pés de cevada.
 Surgiu posteriormente, em dada difícil de precisar, uma nova insígnia com a cabeça de perfil de uma negra, aqui apresentada em duas embalagens de especiarias, que viria a dar a que actual mente é usada e que identifica a marca.
O sr. Carlos Pina não  recorda quem foi o autor inicial da mesma mas sabe ter sido feita por um técnico da Sociedade Portuguesa La Cellophane, Lda. Seria provavelmente esta empresa a responsável por pequenos pacotes em celofane utilizados para embalar alimentos, como os aqui apresentados. 
Desde há vários anos e após o registo desta insígnia em 1981, surgiu uma outra imagem da «Negrita», como uma mulher africana zulu, de perfil, com pescoço longo envolvido por múltiplos colares, de grande qualidade e que perdurou até hoje como imagem de marca.
Presentemente surge sobreposta a uma oval amarela que não existia inicialmente, como se comprova pela existência de um cartaz pintado, na posse do proprietário e em que surge já esta imagem, que os portugueses hoje associam à marca.
Embora continue a comercializar outros produtos alimentares, é a torrefacção de café e derivados que se mantém no topo das suas actividades, numa fábrica situada no centro da cidade de Lisboa que, apesar de modernizada, mantém as suas características iniciais e de que fazemos votos se mantenha activa por muito tempo.



[1] Companhia Agrícola de Agricultura (CADA)
[2] BPI, 1928, nº 8, p. 390.

7 comentários:

Maria Paula disse...

Olá Ana
É curioso que neste interessante post faça referência à minha terra em Angola- a Boa Entrada- que era precisamente a sede da CADA, sigla da Companhia Angolana de Agricultura, uma das grandes empresas de Angola, produtoras e exportadoras de café.A designação de Novo Redondo será certamente referência a uma cidade litoral relativamente próxima e na qual a CADA tinha algumas roças.
Tenho pena de não conseguir aceder ao link que deixou no fim do post.Tem ideia de como poderei fazê-lo? Fiquei curiosa.
Obrigada

Ana Marques Pereira disse...

Maria Paula,
Não se trata de um link mas de uma footnote. A informação foi-me dada pelo proprietário da empresa. Se souber mais alguma coisa digo-lhe.
Obrigada.

Manuel Tomaz disse...

É um exemplo de trabalho êste Senhor! Com 87 (ou quási) anos ainda está no ativo. Há pessoas para quem o trabalho é para toda a vida...

Ana Marques Pereira disse...

Manuel Tomaz,
Efectivamente não só está no activo, como se mantém extremamente lúcido e com poder de iniciativa.
Não há dúvida que o trabalho faz bem ao cérebro.

Helena Pina disse...

Maria Paula,
Efectivamente, é comum um café ser comercializado com o nome do porto de mar por onde é escoado/comercializado. De Angola, actualmente, chegam ao mercado os cafés Amboim (antigo Novo Redondo)e Ambriz (desconheço o nome antigo). Quanto ao meu pai, sim, tenho a certeza que é a actividade física e intelectual, aliadas a uma vida regrada, que o mantêm-se nesta forma esplêndida!

Maria Paula disse...

Antes de mais peço desculpa à Ana de responder por aqui à Helena Pina,mas não tenho outra hipótese:)

Muito obrigada Helena, pelo esclarecimento. A antiga Novo Redondo tem agora o nome de Sumbe. Amboim é o
concelho.O seu pai faz-me lembrar o meu, também com muita idade, mas com uma genica e lucidez fantásticas.
Origada mais uma vez.

Unknown disse...

Cara Ana Marques Pereira,

Sou coleccionador de chávenas de café e como tal tenho MUITAS da Negrita.
Recentemente adquiri aquela que se julga ser a 1ª chávena da marca que diz CEVADA NEGRITA A PREFERIDA em louça sacavém.
Tenho também uma outra, embora sem pires, muito antiga em Louça da Vista Alegre da qual existem 2 versões (azul e vermelho).
Deixo o meu site para visitarem www.chavenasdopedro.pt.vu

Quanto à Sr. D. Ana Marques Pereira eu como coleccionador de chávenas estou sempre interessado em aumentar e melhorar a minha colecção preservando também desta forma a memória da nossa história do café, se souberem de quem tenha artigos da vossa marca, de preferência chávenas de café, eu estou sempre interessado.

Parabéns pelo artigo.
Parabéns pela continuidade de uma marca tão antiga.

Pedro Borga - www.chavenasdopedro.pt.vu