segunda-feira, 7 de maio de 2012

1 - As origens da margarina na Europa

A história da margarina encontra-se melhor documentada do que a da manteiga, seguramente por ser mais recente.
Podemos dizer que começou com os trabalhos de Michel Eugène Chevreul (1786-1889), um químico francês que se dedicou ao estudo das gorduras. A ele se deve a palavra colesterol a que, em 1815, chamou colesterine.
Foi o estudo das gorduras animais que o levou à identificação dos constituintes gordos existentes no sebo e permitiu o desenvolvimento do fabrico de velas mais duráveis e de sabões. Publicou vários estudos sobre as gorduras animais que terão estado na base do trabalho de um outro químico francês Hippolyte Mège-Mouriés (1817-1880) que é considerado o inventor de uma manteiga sintética, a margarina, da qual registou a patente em 1869.
Numa altura de dificuldades económicas em toda a Europa, a chamada «manteiga dos pobres» pareceu uma boa ideia e teve reconhecimento imediato. Recebeu, à semelhança do que se passou com Appert com a invenção das conservas, um prémio do governo francês, na pessoa de Napoleão III.

Mège-Mouriés formou a Societé Anonime d'Alimentation, em Aubervilliers, que produzia a margarina Mouriés. Após o registo da patente em França, segui-se o registo em Inglaterra e em 1873 nos Estados Unidos, data em que um industrial começou a  produção nesse país.
Em 1871 Mège-Mouriés vendeu o seu projecto ao maior fabricante de manteiga holandês Anton Jurghens que construiu a primeira fábrica de margarina, desenvolvendo e aperfeiçoando a técnica até então conhecida. Seria também o responsável por uma outra inovação que foi a de vender a margarina embrulhada em papel identificador o que, para a época em que os alimentos eram vendidos a granel, foi uma novidade.
A Jurghens se juntou mais tarde van den Bergh, um outro importante fabricante, e foram estes os pioneiros do fabrico de margarina na Holanda, então concentrada na cidade de Oss. A partir de 1879 e até 1900 assistiu-se a um aumento exponencial de fábricas de margarina, nesse país. A Holanda era na altura o maior fabricante e exportador de manteiga, não sendo pois de estranhar que tenha sido também este país que mais rapidamente aderiu ao fabrico da margarina, por as técnicas terem semelhanças.
Na história da margarina teve também um papel importante Johannes Theodorus Mouton (1840 1912) que fundou em 1879, uma fábrica de «manteiga-margarina» em Haia. Foi um grande defensor das qualidades da margarina que começavam então a ser postas em dúvida e lutou pelo registo de patentes que não existiam na Holanda antes de 1900. Em 1889 transferiu a fábrica para Rijswijk, porque a anterior era já pequena para a produção. Foi adquirida em 1911 tendo mudado o nome para «A nova fábrica de Margarina nv de Responsabilidade Limitada» (Naamloze Vennootschap de nieuwe margarine fabrieken), em Rijswijk. Seria esta fábrica a primeira a exportar margarina para Portugal, como veremos.
Em 1927 deu-se a fusão da firma Jurgens com o concorrente Van den Bergh para formar a «Margarina Unida». Em 1928 juntou-se a Naamloze Vennootschap de nieuwe margarine fabrieken. Seriam estas empresas a base da Unilever.
Na Europa a produção de margarina estendeu-se rapidamente a vários países. Na Dinamarca foi Otto Monsted que começou a produzir margarina em 1870-1871, tornando-se este país, dentro de pouco tempo o maior consumidor de margarina. Na Alemanha a primeira fábrica Frankfurter Margarine-Gesellschaft, foi construída em 1872. Na Áustria em 1874 surgiu um fábrica designada Sargs num cidade perto de Viena. Pelo contrário a Inglaterra, para onde era exportada muita da margarina holandesa e dinamarquesa, foi dos últimos países a iniciar o seu fabrico. Este teria lugar em Godley, em 1889, com a firma Dane Otto Monsted.
Para terminar, devo dizer que nos países de língua anglo-saxónica foi designada «butterine», expressão que se prestava a confusões com a manteiga (butter) pelo que, em 1887, o parlamento inglês decidiu proibir esta designação passando a chamar-se «marguerine».
Sobre o caso português falaremos no próximo poste.


3 comentários:

Tânia Raquel Ferreira disse...

Muito, muito interessante!

Ana Marques Pereira disse...

Tânia,
Muito obrigada. Parabéns pelo trabalho que tem feito a defender a doçaria portuguesa lá fora.

Tânia Raquel Ferreira disse...

Ana, eu é que agradeço, sinceramente. Eu ainda agora começo a percorrer este caminho da valorização da nossa doçaria, do nosso pão, enfim... da nossa Gastronomia.
E para mim, é um privilégio poder aprender consigo.