Numa manhã de sábado saí com a minha máquina para tirar fotografias em Lisboa. Perto de casa deparei-me com uma loja que, no exterior, apresentava uma caixa de “brinjalas”. Enquanto fotografava as beringelas veio à porta um jovem indiano curioso.
Inicialmente pensei tratar-se de um erro ortográfico mas, como vim a constatar, tratava-se apenas de uma adaptação ao português da palavra “brinjal”, de origem indiana.
A beringela é nativa da Índia, onde foi cultivada desde a pré-história.
A “brinjal”, com múltiplas designações em sânscrito, passou para a Pérsia com o nome bãdnjãn e depois para o Médio Oriente, onde evoluiu para a palavra árabe bãdinjãnâ. Chegou à Espanha pela mão dos árabes tomando o nome (al)-beringena, semelhante ao francês “aubergine” e à palavra portuguesa beringela.
O mercador português Domingo Paes, que visitou a Índia em 1520, espantou-se com a variedade de beringelas aí existentes.
Em Portugal sabe-se que pelo menos no século XV já era utilizada, de acordo com uma citação nos Livros da Falcoaria, onde surge a forma de a consumir: «Toma h ua bringella e abre a en quartos e deita lhe h ua pouco de sal e espreme a duas vezes».
Também Gil Vicente, no ”Auto da Lusitânia”, peça representada em 1532 na corte de D. João III, para comemorar o nascimento de D. Manuel, se referiu a «Berengelas e pepinos/ e cabra curada oo ar».
Tinha chegado à Europa nesta época o vegetal de origem indiana cujo uso se tornaria global
Este reencontro em Lisboa da palavra “brinjalas” escrita por um comerciante indiano, desencadeando no passante apressado a ideia de erro, traduz na realidade um regresso à palavra original.
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