Quando começou a haver algum desafogo económico deixaram de se valorizar as pequenas coisas. Nos últimos tempos alcançou-se o auge do consumismo, que atingiu mesmo quem não o podia exercer.
Esqueceram-se os valores morais, os mais importantes, e só se valorizou o material. Dentro deste campo apenas as «marcas comerciais», identificadas com qualidade, luxo ou moda, passaram a ser importantes. Os mais novos, mais facilmente influenciados pela publicidade, assimilaram com facilidade estes conceitos.
De repente todos descobriram que afinal o paraíso prometido não estava ao alcance de todos. Nem nunca esteve. Afinal demasiadas pessoas estavam distraídas.
As novas gerações ouvem agora e pela primeira vez o conceito de economizar. Desde sempre essa noção foi sendo assimilada naturalmente, de forma racional e intuitiva.
Nos finais do século XIX, quando o papel das donas de casa se tornou mais relevante começou-se a instruir as mulheres, pilares da família. E surgiram conceitos considerados então científicos de «Economia Doméstica», que em Portugal apenas na primeira metade do século XX foram ministrados. E mesmo assim apenas nas grandes cidades.
Com o tempo perderam-se estes conceitos de economia doméstica ou outra. E hoje fico surpreendida por ouvir a própria EDP a ensinar os consumidores a poupar.
Como vai longe o período oposto em que, a então correspondente CRGE (Companhias Reunidas de Gás e Electricidade) incentivava ao consumo, promovendo mesmo a venda de electrodomésticos.
Tudo a isto a propósito de um pequeno objecto. Uma lata de conservas reciclada em raspador. Foi-me vendida, como sendo um raspador de escamas de peixe. É provável que assim seja.
O seu fundo foi picado com um prego, de forma regular, criando orifícios, em que os bordos cortantes são utilizados para raspar. Pode também ter sido utilizado para raspar a casca de citrinos, à semelhança de outros exemplares que possuo.
Para mim é um objecto fascinante porque encerra em si, para além da noção de economia, uma disponibilidade do tempo e uma atenção pelas pequenas coisas que hoje já não existe. Para meditar em tempo de crise económica.
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