Hoje em dia já compro poucos livros exclusivamente de receitas. Refiro-me a livros novos, é claro, porque dos antigos, continuo a não resistir.
O número de livros de receitas que sai em todo o mundo é elevadíssimo. Em 1994 Shapiro já referia que saíam nos Estados Unidos mais de 1000 títulos por ano. Em França, só em 2002, foram publicados 750 novos títulos, enquanto na Suécia, no mesmo ano, para 8,8 milhões de habitantes, eram publicados 300 novos títulos.
Estes números são contudo baixos quando comparados com Inglaterra onde os concursos culinários e os programas com chefes de culinária levaram a um aumento do número de vendas deste tipo de livros. Só Delia Smith, que tinha um programa de televisão chamado «How to cook», vendeu dezassete milhões de livros.
Estes números são contudo baixos quando comparados com Inglaterra onde os concursos culinários e os programas com chefes de culinária levaram a um aumento do número de vendas deste tipo de livros. Só Delia Smith, que tinha um programa de televisão chamado «How to cook», vendeu dezassete milhões de livros.
De resto o Reino Unido é citado como sendo o país onde são publicados mais livros per capita por ano. A última lista publicada pela Unesco mostra que, neste país, em 2005, foram publicados 206.000 novos livros, seguido pelos Estados Unidos com 172.000. O número e o tipo de livros publicados por ano e por país é monitorizado pela Unesco como um índice importante para avaliar o nível de vida e de educação de um país. Dessa lista fazem parte, pelo menos 77 países, incluindo Angola e Burkina Faso, mas não consegui encontrar Portugal.
Toda esta conversa vem a propósito do último livro de culinária que comprei.
Trata-se do livro de Graça Sá-Fernandes e Naomi Calvão, publicado este ano pela Assírio & Alvim e intitulado «Sabores Judaicos. Trás-os-Montes». O livro apresenta-se ilustrado com belas fotografias de Valter Vinagre, que se tem especializado neste tema.
Mas este é mais do que um livro de receitas. Na introdução as autoras explicam que pretenderam homenagear os cripto-judeus daquela região e recuperar a tradição, no que se refere aos costumes alimentares, que foram passando nas famílias de forma oral, ao longo dos séculos. Assim incluem uma primeira parte em que explicam as principais festas religiosas judaicas e os alimentos característicos de cada uma delas. Na segunda parte apresentam-se as receitas mencionadas por temas.Porque a alimentação transmontana é extraordinariamente rica e mantém ainda características ancestrais é importante registá-la , antes que se vá adulterando ou perdendo.
A nossa história alimentar sofreu várias influências religiosas e pagãs e hoje somos o resultado de todas elas.
Não temos estudada a influência árabe na nossa alimentação, ao contrário dos espanhóis que já o fizeram, embora tenhamos a atenuante de uma menor influência. A comida judia, de que possuo alguns livros publicados nos Estados Unidos, nunca tinha sido abordada no nosso país sob este ponto de vista.
Foi por isso que adquiri este livro. Preenche uma lacuna na nossa história e a mim, pessoalmente, entusiasma-me ver a cozinha transmontana, uma das melhores do nosso país, assim enaltecida.
Não temos estudada a influência árabe na nossa alimentação, ao contrário dos espanhóis que já o fizeram, embora tenhamos a atenuante de uma menor influência. A comida judia, de que possuo alguns livros publicados nos Estados Unidos, nunca tinha sido abordada no nosso país sob este ponto de vista.
Foi por isso que adquiri este livro. Preenche uma lacuna na nossa história e a mim, pessoalmente, entusiasma-me ver a cozinha transmontana, uma das melhores do nosso país, assim enaltecida.
6 comentários:
Quem disse que a influência berbere-mussulmana é menor que 'em Espanha'?
A fronteira do islão, nesta parte do Gharb al Andalus era o Mondego e a costa atlântica - trata-se da alavanca determinante da nossa evolução técnica e línguistica.
Eu digo que a influência berbere-muçulmana é menor que em Espanha: em Portugal a Reconquista terminou em 1249. Em Espanha em 1492. Sempre são quase 250 anos de diferença...
Bem, a avaliar apenas o elemento formalizado e cru que as datas constituem, nem sequer seria como diz uma vez que, a partir do fim do poder Almohada (c. 1228) resta apenas o Reino de Granada e, esse sim, acabado em 1492 (desprezando um surto de rebelião organizada em meados do séc. XVI, por menor importância).
Porém, a influência daquela cultura não só não tem origem homogénea no tempo como muito menos seria resultante da duração das influências no território, tendo-se manifestado -p.expl- de diferente modo na Toledo do séc IX e na Silves do séc XI, para além de que as datas, como as refere não se colam à formalização identitária do espaço político como hoje o designamos, que era então embrionário e fragmentário, do ponto de vista cultural, não devendo pois ser considerada determinante a mera duração da presença vista generalizadamente.
(Lamento o caracter abreviado deste comentário e que o tema não autorizaria)
Bem tenho que pôr um ponto de ordem nesta mesa. Se é verdade que ainda hoje se nota na culinária dos nuestros hermanos uma maior influencia árabe, é também verdade que são eles que têm manuscritos sobre o assunto, para o atestar. Na Biblioteca da Academia de História foi encontrado um manuscrito intitulado «Fadalatal-Jiwan, de Ibn Razin al Tuyibi al Anadaluzi», escrito entre os anos de 1243 e 1328. Foi traduzido e estudado por Fernando de la Granja Santamaria, que publicou a sua tese em Madrid em 1960.
Outros estudos se seguiram de que falaremos posteriormente
(mutatis mutandis) não será pelo facto de ter vivido em Toledo, no séc VIII ou IX, uma princesa que lia e tinha uma biblioteca com cerca de noventa volumes que será hoje menor a(s) influência(s) da cultura mussulmana/berbere, naquilo que hoje é território português e que durante a Idade média era território administrado e delimitado de uma forma anterior à noção de Estado, onde os vínculos foram determinados ao arrepio da convenção de fronteira de hoje ou daquilo que se convenciona considerar fronteira, a partir de certas datas e que foi sendo delineado, tanto em termos "militares" como "políticos", ao sabor dos acontecimentos e de alguns acasos.
O aculturamento pode ou não estar ligado à (actual) delimitação territorial e a sua relação com a duração de permanências é muito difusa.
Nada tenho a acrescentar ao que escrevi depois das duas dissertações do comentador que se assina “pirata vermelho”. Para mim, para serem levados a sério, os comentários sobre História têm que possuir algum rigor científico, e quem começa por qualificar as datas por “elemento formalizado e cru” parece-me preferir optar pela retórica gongórica. São disciplinas diferentes…
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