Muitas das agendas domésticas
antigas, mantém-se em branco, ou apenas com as primeiras páginas com registos,
traduzindo uma vontade de organização que não se chegou a concretizar.
Apesar de serem interessante
por si só, quer pelo grafismo, quer pelos conselhos dispersos ao longo das
páginas, ou ainda pelas receitas que apresentam, são os apontamentos nelas
registados que mais me entusiasmam.
Mas hoje o assunto é outro. Chamou-me à atenção a ausência de revestimento. Interroguei-me porque razão teriam arrancado a capa. Trata-se aqui da “Agenda Doméstica de 1976”, publicada pela Porto Editora e que tinha muitos apreciadores. A autoria era atribuída a Maria Raquel, um nome inventado e que, segundo os editores tanto o título como o pseudónimo «estavam legalmente registados».
Quando procurei identificar
qual seria a capa daquele ano deparei-me com um livro de Francisco Seixas da
Costa, intitulado Cidade Imaginária.
Publicado em 2021 em Vila Real, é uma compilação de vários textos seus e entre
eles, um intitulado “Agenda Doméstica”, escrito em 2013.
O autor, recordando tempos da
sua infância analisava a preferência, em sua casa, pela edição da Porto Editora,
em detrimento das outras da época, como a Agenda
do Lar ou a editada pelo O Século.
E embora esta se destinasse à sua mãe, como era habitual, mal chegava a casa
era tomada pelas mãos do pai e do avó materno. Como resultado «o volume
brochado era acaparado imediatamente após a compra» pelos elementos masculinos
da casa. A razão para este procedimento impróprio, que não cedia aos protestos
femininos, era apoderarem-se dos «12 problemas de palavras-cruzadas que a Agenda trazia».
Estes, não só eram dos mais
difíceis que eram publicados em Portugal, como depois de resolvidos os
problemas eram enviadas as soluções para a Editora que retribuía os esforçados
charadistas com presentes como livros de culinária, dicionários, etc.
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