Há alguns anos ouvi a história
de um militar da velha guarda que costumava dizer: «Quando me falam em cultura
apetece-me puxar do revólver».
Recordar esta afirmação provoca
sempre em mim um sorriso e, apesar do absurdo, até sou capaz de a compreender.
Comigo passa-se o mesmo quando ouço a palavra “destralhar”. É uma palavra nova que
as pessoas usam convencidas que estão a ser modernas e apreciadoras do
minimalismo.
Há uns meses, após me
queixar da dificuldade em organizar os múltiplos objectos, livros, ephemera, etc, que entram nesta casa, uma
amiga disse-me para eu destralhar. Fiquei de cabeça perdida e disse-lhe que não
podia fazer isso porque… não tinha tralhas.
Na realidade o conceito de tralha aplica-se a objectos sem valor. Ninguém destralha as salvas de prata da avó. Se não as quer, vende-as.
Mas a falta de valor de um
objecto é muito subjectivo. Eu gosto de objectos sem valor que contam histórias
ou que representam um passo nos hábitos da humanidade. Em muitos casos isso é
coincidente com o conceito de ephemera,
mas nem sempre.
Um objecto de ephemera pode ser bastante valioso, por exemplo um bocado de papel do século XVIII de um comerciante que apresentava os seus serviços, um precursor do cartão-de-visita e que são tão raros. E um objecto tipo tralha, por exemplo uma caixinha de plástico, pode ainda ser vendida na Feira da Ladra por alguns cêntimos ou euros. Tudo tem o valor que lhe atribuímos.
Isto vem a propósito da minha actividade de hoje: organizar sacos de papel de casas de moda, dos anos 60, de lojas já hoje desaparecidas.
Para muitos deviam ir para o
lixo. Mas observem alguns exemplos e vejam se não lhes provocam um sorriso
quando identificam locais que já nem se lembravam que existiram.
Enfim, cada um tem a tralha
que merece!
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