Foi por acaso que as fiz pela
primeira vez. Um vinho tinto de qualidade, mas demasiado doce, fez-me decidir o
seu destino: era bom para cozinhar pêras em vinho. Descobri então que tinha
poucas pêras e decidi acrescentar maçãs, neste caso maçãs de Alcobaça,
pequenas. Fiquei depois a pensar por que
razão não utilizamos as maçãs para o mesmo fim e como esta dúvida nunca me
tinha ocorrido.
Se consultarmos a internet até
encontramos mais receitas de maçãs cozinhadas com vinho do que com pêras. Na
grande maioria tratam-se no entanto de receitas em que são assadas no forno e
não cozidas. Muitas dessas receitas são brasileiras, fazendo-me pensar que
talvez o acesso às maçãs seja mais fácil nesse país.
Na realidade a receita
original é italiana. É verdade que a origem é disputada tanto por Itália como
por França, até porque a receita teve origem no Piemonte, região de Itália que
confina com a França. Por outro lado a pêra adequada para esse fim é a Martin
Sec que é considerada a melhor das pêras para cozimento.
Acontece que esta variedade é muito
antiga, com eventual origem francesa, remontando ao século 16. Notícias sobre a
mesma surgiram nos textos do agrónomo francês Charles Estienne, em 1536. A origem geográfica é
discutida e embora o próprio Estienne a coloque na região de Champagne, outros
locais situados nos vales alpinos entre a Itália e a França disputam o seu
direito de primogenitura.
Ainda no século XIX no importante
livro sobre pomologia "La Pomona italiana" de Giorgio Gallesio esta
variedade era descrita como sendo de origem piemontesa, novamente contestado
por outros especialistas franceses.
Dito isto, a verdade é que a
receita das chamadas “pêras em vinho” foi sempre reconhecida como italiana. Lembro-me
de as ter comido pela primeira vez, talvez na década de 1990, em restaurantes
italianos de Lisboa, únicos locais onde eram então confeccionadas.
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Pera Martin Sec em La Pomma italiana |
Depois a receita
generalizou-se e nós os portugueses, que não somos para modas, até passámos a
chamá-las “Peras bêbadas”. Estavam definitivamente aportuguesadas.
Agora eu pergunto: sou só seu
que não utilizo maçãs para fazer a mesma receita, ou somos todos?.
É que da mistura concluí que
as maçãs ficaram melhores do que as pêras. E porquê? Porque sendo mais pequenas
absorveram até mais interiormente o molho em que foram cozidas. Não se esqueçam
de usar maçãs mais verdes, isto é, pouco maduras, e de as cozer menos tempo. Depois digam-me a vosssa opinião.