«Os jantares são os laços
inocentes da sociedade» dizia Jean-Baptiste Massillon (1663- 1742) religioso francês, reconhecido pela sua oratória e que certamente
o seria pela vida social a avaliar por esta sua citação.
Assim começava uma pequena
rubrica de um Almanaque do século XIX, sem capa e em que este texto se apresentava
na primeira página, como se eu não pudesse ignorá-la. Na lombada pode ainda
ver-se que se tratava do Novo Almanaque
de Lembranças Luso-Brasileiro de 187?.
Tenho sempre uma curiosidade
pelos Almanaques, um pot-pourris de
informações que no século XIX foram publicados em profusão.
A palavra Almanaque é de origem árabe e vem de “Almanakh”, que significa o “lugar
onde a gente manda ajoelhar os camelos”, isto é, o local em que os nómadas se
reuniam para rezar e contar as experiências de viagens por outras terras. Em
português, almanaque refere-se a uma
publicação que apresenta um calendário, mas que é preenchido com informações
variadas, no âmbito da ciência, da literatura, da história e da poesia, sendo
os textos mais sérios entremeados com assuntos recreativos, como charadas e
passatempos, e por vezes histórias humorísticas.
Novo
Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro foi publicado entre 1872 e
1898 (inclusive) e seguiu-se ao Almanaque
de Lembranças Luso-Brasileiro publicado em 1851 por Alexandre Magno de
Castilho até 1861 e após a morte do fundador por um sobrinho com o mesmo nome e,
de 1872 a 1897, por António Xavier Rodrigues Cordeiro.
Foi nestes almanaques que
Guiomar
Delphina de Noronha Torrezão (1844-1898) colaborou tendo aí ido buscar a
inspiração para fundar o Almanach da Senhoras
planeado no ano de 1870 para sair no ano seguinte, com era habitual, tendo esta
publicação terminado em 1928.
Guiomar Torrezão. Foto tirada da Wikipédia |
Após a sua morte foi a sua
irmã Felismina Torrezão quem assumiu a direcção. No Almanach da Senhoras colaborou também Maria Amália Vaz de Carvalho
(1847-1921) e muitas outras mulheres portuguesas e brasileiras que deram o
melhor de si para fazer ouvir a voz feminina e educar as mulheres com vista à
sua emancipação, numa época em que a sociedade ainda lhes vedava o ensino.
Pelo caminho ficaram excertos
como este sobre o papel dos jantares de que omiti o final por ser menos
interessante.
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Bibligrafia:
Andrea Germano de Oliveira Romariz. (2011). O Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro: Um
ensaio para um Projecto maior?. Dissertação de Mestrado em Estudos
Românicos Cultura Portuguesa. Universidade de Lisboa. Faculdade de Letras.
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