O pacote de “Pudim Selvito”
está ainda cheio. É um pudim de baunilha, em pó, corado artificialmente e a que
bastava juntar leite e açúcar e levar ao lume brando para engrossar. Depois era
só pôr numa forma e deixar arrefecer. Para fazer creme bastava aumentar a
quantidade de leite e seguir a mesma receita.
Era uma modernidade para a
época que, pelos vistos, chegou até aos dias de hoje. Na época, a década de
1950, existiam outros pudins deste tipo, sobre um dos quais já falei: o pudimJané.
Este era distribuído pela firma
A Flor da Selva, Lda. que se situava
na Rua da Esperança, 50, em Lisboa e que foi fundada em 1950 por Manuel Alves
Monteiro, natural de Paderne, Melgaço. De acordo com a informação da empresa[1] que ainda hoje existe,
pertença dos filhos Vasco Faria Monteiro e Jorge Faria Monteiro, o pai veio para
Lisboa aos 13 anos trabalhar na distribuição numa mercearia. Foi recebido, em
1937, por seu tio materno o grande fotógrafo Manuel Alves San Payo, que seria
responsável pela fotografia oficial de Salazar e por muitas outras de qualidade
que deixaram registos da época.
Pacote de açúcar |
A essa actividade associou
estudos nocturnos no Ateneu Comercial. Logo que lhe foi possível adquiriu uma
quota no estabelecimento de cafés Ferreira & Maurício, Lda., de nome
comercial “Flor Africana” que ficava
na Rua da Rosa nº 113, em sociedade com Manuel Ferreira. Em 1950 fundou uma
nova empresa a designada A Flor da Selva,
Lda., com loja na Rua da Esperança nº 50, em Lisboa.
Imagem no registo inicial de 1951 |
Neste período é possível
encontrar em Portugal muitas marcadas e imagens associadas a África, como aconteceu
com esta empresa. A marca “Flor da Selva” só foi contudo registada em Agosto de
1951[2]. A insígnia da firma foi a
imagem de uma mulher africana a beber café desenhada por seu primo Nuno San
Payo, filho do fotógrafo Manuel San Payo. Nascido no Brasil (1926-2014)
formou-se em Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Foi
também pintor, cenógrafo, desenhou cartazes e ilustrou vários livros e revistas[3].
Registo inicial em 1958 |
Nuno San Payo adaptou a imagem
desenhada para a Flor da Selva com
pequenas variações. Embora a principal produção da empresa seja hoje a
torrefação do café, numa fase inicial a oferta de produtos era mais alargada
como se constata pelo registo da marca que abrangia: «café, chá, farinha,
especiarias e sucedâneos do café». O registo da marca “Selvito” da Flor da Selva foi feito em 1958[4]. Sabemos que não se
aplicava apenas ao pudim mas a outros produtos por existir uma maqueta para o desenho
de uma carrinha automóvel com publicidade às “Especiarias Selvito”.
Também aqui
o tema africano foi utilizado com um jovem negro em ambiente tropical, com
palmeiras, apontando para um pudim voador. Uma imagem que me faz lembra o Vicente
desenhado por Sara Afonso para as Novas
Aventuras de Mariazinha em África, escrito por Fernanda de Castro, uma das
minha leituras de infância mais queridas.
A empresa mantém-se ainda hoje
pelas mãos dos filhos e netos do fundador.
[2] BPI, Nº
10, 20 de Agosto de 1951.
[3] Como no
Jornal da Mocidade Portuguesa, Camarada, Lusito e Diabrete.
[4] BPI, Nº
3 de 10 Maio de 1958.
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