No meio de alguns papéis com
receitas que me deram vinha uma fotocópia de um artigo de um jornal não
identificado intitulado «Monólogo gastronómico».
O papel mostrava a fotografia
de Francisco Queiroz e reproduzia na íntegra uma das suas recitações da ementa
que antecediam a refeição. O nome do restaurante não era referido no recorte
(possivelmente incompleto), mas imediatamente fui transportada para o interior
de «Sua Excelência». O restaurante, que já não existe, ficava em Lisboa na Rua
do Conde, nº 38, onde na altura eu vivia, um pouco mais abaixo.
Rua do Conde, 38, já com o resturante fechado. Foto tirada do Google Maps. |
Fui lá algumas vezes, talvez
não tantas como se justificava, porque era um lugar onde nos sentíamos em casa.
Morando eu tão perto ficava com a sensação de não tinha saído de casa e que
aquela era a minha sala de jantar. Coisas da juventude, porque as refeições
eram realmente diferentes das dos outros restaurantes. Em primeiro lugar a comida
era excelente, o ambiente acolhedor e o seu proprietário, Francisco Queiroz,
recitava-nos as receitas dizendo, por exemplo, «nabos à moda da minha avó». A
propósito, eu que não gostava de nabos fiquei tão encantada com a descrição da
receita que resolvi experimentar. Os nabos vinham numa frigideirinha de cerâmica
cobertos com fiambre e molho branco e iam ao forno gratinar com queijo. A sua
confecção era descrita passo a passo e a experiência era sempre positiva.
A recitação da ementa era uma das características da casa. Francisco Queiroz descrevia todos os pratos em pormenor, referindo logo que não havia ementa escrita e a que ementa era ele.
A recitação da ementa era uma das características da casa. Francisco Queiroz descrevia todos os pratos em pormenor, referindo logo que não havia ementa escrita e a que ementa era ele.
Francisco Queiroz |
A demorada descrição fazia impacientar
algumas pessoas. Mas não havia volta a dar. Era um ritual que fazia parte da
refeição e que para ele fazia parte do prazer do momento. Quem lá ia já sabia
ao que ia e se fosse bom ouvinte tirava disso prazer.
Tendo vindo de Angola nos anos
70 começou por abrir o restaurante «Varina da Madragoa» onde já fazia esta “actuação”.
Quando frequentei este restaurante já ele lá não estava e não o posso confirmar
pessoalmente.
O artigo que reproduzo fala
apenas das entradas, podem imaginar o resto. Mas tudo isto valia a pena. Já não
há restaurantes destes!
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