Foto de João Oliveira Silva da CMF |
Tive o grato desafio de
receber um convite da Câmara Municipal de Mafra para organizar uma exposição
sobre o pão durante o Festival do Pão
que irá decorrer nessa cidade entre os dias 7 e 15 de Julho.
O tema este ano tem a ver com
o pão na mesa real, numa referência às estadas da corte de D. João V nessa,
então, vila. Mas decidiu-se falar no «Pão de todos: da mesa do povo à mesa
real», título da exposição, por ser mais abrangente.
Pormenor do quadro «natureza morta com pão e empada de perú» Pieter Claesz, 1627. Cortesia de Rijksmuseum Amsterdam. |
Foi um desafio interessante
porque me fez pensar de outra forma no pão. Um dos painéis designa-se «As cores
do Pão» e remete-nos para uma realidade que presentemente se alterou.
Consumido por todas as classes
sociais o pão era, contudo, o elemento base da alimentação das classes mais
carenciadas. Apresentava-se com várias formas e características mas era na
qualidade do pão (pão branco ou alvo para as classes poderosas, de mistura ou
de cereais inferiores como a espelta e o sorgo, para o povo) que se revelava a
grande diferença entre as classes sociais.
Era notória uma hierarquia nos
pães tal como existia na sociedade e a cor do pão traduzia essa realidade. Até
à introdução do milho na panificação as cores do pão variavam do escuro, quase
preto, ao branco. A farinha de milho veio alterar a composição dos pães e a sua
cor.
O padeiro (c. 1681). Job Adriaensz Berckheyde. Worcester Art Museum. |
Para
ilustrar esta ideia decidi utilizar um quadro «O padeiro», pintado
por Job Adriaensz Berckheyde e existente no americano Worcester Art Museum. O
preço pedido pela utilização da imagem para este fim era incomportável.
Decidiu-se então fazer uma fotografia de uma natureza morta que envolvesse pão
(pães de Mafra, pois claro!).
Para
isso inspirei-me num quadro que Salvador Dali pintou em 1926 e adaptei a ideia
com objectos da minha pertença. O resultado da foto (da autoria de João
Oliveira, da CMF) superou as expectativas: ficou lindíssimo, como podem
confirmar.
O cesto de pão. Salvador Dali. 1926. |
Esta
história tem um outro fim: o de alertar para o crescente aumento de preço que
alguns museus pedem pela utilização das suas imagens. Enquanto alguns museus
pensam que o facto de divulgarmos uma das suas obras já é uma forma de
pagamento outros, com acontece com a maior parte dos museus portugueses
dependentes da DGPC, fazem-se cobrar bem.
Este problema surgiu-me com o meu
futuro livro «Vestir a Mesa». Com o preço pedido, por exemplo, pela utilização
de uma fotografia do Arquivo Fotográfico de Lisboa, eu comprava a foto no mercado,
caso ela aparecesse. Resultado: o livro vai ter imagens estrangeiras de bons
museus, imagens de peças e gravuras minhas, fotos de conjuntos da minha
colecção mas apenas as imagens indispensáveis dos museus portugueses.
Vão
ficar com as imagens guardadas nas suas colecções e não será feita divulgação
do nosso espólio (com grande pena minha), tanto mais lamentável porque será uma
edição bilingue. Não acham que não é por aí que vão encher-se de dinheiro para a
Cultura? Praticar preços internacionais num país como o nosso é uma tontaria
contraproducente. E que tal rever as tabelas?
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