Quando os portugueses chegaram ao Japão no século XVI, tiveram na cultura japonesa uma influência importante. Embora seja frequentemente referida a introdução das armas de fogo, houve outros aspectos que foram mais marcantes, entre os quais está sem dúvida a influência na língua. A língua japonesa chegou a ter, segundo Armando Martins Janeira, mais de 40.000 vocábulos de origem portuguesa(1).
Variedade de Castella com chá verde |
Muitos desapareceram, tal como iria acontecer com a influência religiosa exercida pelos nosso missionários, mas permanecem ainda muitas palavras no uso comum.
Experimentem dizer em alto kasutera e está-se mesmo a ver um japonês a dizer castella.
Experimentem dizer em alto kasutera e está-se mesmo a ver um japonês a dizer castella.
É que uma das heranças portuguesas, que os japoneses mantiveram até hoje, foi o fabrico de um bolo, semelhante ao pão-de-ló, introduzido pelos portugueses no século XVI. É produzido na província de Nagasaki, onde é considerado um bolo tradicional. É feito com farinha, ovos, açúcar e xarope de milho e, tal como o nosso pão-de-ló, tem que ser demoradamente batido.
O bolo sofreu algumas alterações, com variantes que incorporam elementos agradáveis ao gosto japonês, como o chá verde, o côco, ou chocolate. Mas a sua base mantém-se fiel ao preparado inicial e continua a ser produzido pela mesma casa de Nagasaki, a Casa Shooken, fundada em 1681 e que se mantém até ao presente.
Em Portugal, existem variedades regionais de pão-de-ló que se tornaram características das regiões de origem, como o de Alfeizerão, o de Ovar, o de Margaride e o de Arouca. À excepçaõ do de Arouca, todos são feitos em forma redonda com buraco. Contudo o de Arouca, em especial o da freguesia de Burgo, distingue-se por ser preparado em formas rectangulares. É o que acontece também com o pão-de-ló japonês ou castella, o que lhes permite serem vendidos em fatias individuais.
Em Portugal é possível experimentar o castella, graças ao empreendorismo de Paulo Duarte um português que estagiou em Nagasaki, na casa Shooken e que em Lisboa abriu um salão de chá luso-japonês, a «Castella do Paulo». Fica na Rua da Alfândega e vende vários tipos de doces japoneses. Aí se podem provar três variedades de castella: normal, com chá verde e com chocolate.
Pessoalmente, prefiro o nosso pão-de-ló de Alfeizeirão ou de Margaride, mas não posso deixar de elogiar, e de experimentar com prazer, este regresso à Pátria de um doce nosso tão antigo, interpretado pelos japoneses.
(1) Armando Martins Janeira (1914-1988) foi embaixador de Portugal no Japão e um estudioso das relações luso-nipónicas. O seu livro O Impacte Português sobre a Civilização Japonesa, marcou-me imenso. Infelizmente emprestei-o um dia e nunca mais o vi, pelo que não posso confirmar o número que refiro, que nos parece inacreditável, mas que fixei como verdadeiro.
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