terça-feira, 7 de setembro de 2010

A valsa da «Água de Castelo» e a lenda de Salúquia

Foi realmente um achado esta partitura para piano da valsa «Sallúquia. A bela Moura».
Saída da pena de Alfredo Keil (1854-1907), mais conhecido por ter composto «A Portuguesa», que se viria a tornar no hino nacional e que foi autor de outras peças, sendo uma das mais conhecidas uma versão para ópera de «A Serrana”. Alfredo Keil foi também pintor.
A bela capa, não assinada, mostra a imagem da moura Salúquia e transporta-nos para a lenda ligada à presente cidade do baixo Alentejo designada Moura. A lenda data do século XII, quando Moura era habitado por árabes e se chamava Al-Manijah. Era governada por uma formosa moura, de nome Salúquia, filha de Abu-Assan. Apaixonada pelo alcaide de Arouche, chamado Bráfama, foi decidido o seu casamento. Na véspera, Bráfama acompanhado da sua comitiva, dirigiu-se para o castelo da sua amada. Sabendo dos preparativos, os irmãos Álvaro Rodrigues e Pedro Rodrigues, à frente de tropas cristãs e sob ordens de D. Afonso Henriques, saíram-lhe ao caminho. Bráfama foi morto e a sua comitiva destroçada. Vestidos de árabes os cavaleiros cristãos dirigiram-se para o castelo, onde Salúquia, pensando tratar-se do seu noivo, deu ordens para baixar a ponte levadiça. A surpresa da investida permitiu uma rápida conquista do castelo pelos cristãos. Apercebendo-se do logro, Salúquia agarrou nas chaves da cidade e atirou-se de uma das torres, que ainda hoje tem o seu nome, a “Torre de Salúquia”.
Foi este tema que Alfredo Keil foi buscar para a sua valsa encomendada pelas Águas de Moura. A água comercializada apresenta uma torre do castelo de Moura e foi por isso designada «Água do Castelo».
Esta água mineral foi criada em 1899 pela empresa Águas de Moura. Foi nessa data que foi feito o arrendamento à firma Assis & Cª, que ficou obrigada à construção de um balneário e de um hotel. Esse estabelecimento termal entrou em funcionamento em 1901 e em 1903 segui-se a inauguração do Hotel. A oficina de engarrafamento pertencia a Assis & Cª - Empresa de Águas de Moura Lda, que em 1906 iniciou também a exploração da nascente de água de Pisões, a 2 km da vila. Estas oficinas eram, ainda em 1947, consideradas exemplares por Acciouoli.
Adquirida pelo grupo Nestlé, as Águas do Castelo voltaram a ser vendidas em Dezembro de 2006 ao grupo espanhol Mineraqua.
A partitura deve datar do final do século XIX, dadas as suas características Arte-Nova.

É de 1906 o anúncio apresentado publicado na Revista Serões. Nele se pode ver no canto direito o símbolo de "Fornecedor da Casa Real" e uma referência aos prémios ganhos pela «Água Castello» nas Exposições de St. Louis (1904) e na do Palácio Cristal do Porto (Agrícola em 1903?).

2 comentários:

Anónimo disse...

Curiosa associação dum compositor
"sério"à promoção da água de Moura;
nos filmes americanos e ingleses vários eruditos colaboraram mas como
fariam Bruckner,Brahms,Mahler?

José

Ana Marques Pereira disse...

José,
Provavelmente fariam o mesmo.
É difícil avaliar, fora da nossa época, qual o tipo de "encomendas" que eram consideradas aceitáveis.
Hoje, se calhar, já não nos admiravamos tanto.