Estive na ultima semana em Bordéus e descobri os «canelés de Bordeaux».
Tratam-se de pequenos bolos, feitos com uma massa muito semelhante à dos crepes e que, depois de cozidos, se apresentam com um centro mais mole e um exterior caramelizado. Ao paladar sobressai o gosto a baunilha e a rum, por vezes substituído por outra bebida licorosa.
A forma é a de um cilindro canelado, de onde o nome de canelés. São vendidos em vários tamanhos conforme se destinam ao chá, a acompanhar o café ou a serem usados noutras ocasiões. O mais interessante dos canelés é a sua forma que advém de serem feitos em pequenas formas de cobre, que podem também ser compradas nas lojas, juntamente com a receita. Estas dão-nos uma ideia de antiguidade da doçaria, embora hoje sejam feitos, a maior parte das vezes, em formas de silicone, que facilitam o processo de desenformar.
A sua origem é desconhecida. Para justificar o orgulho regional de doce antigo foi procurada numa receita do século XVIII, das freiras do Convento da Anunciada em Bordéus, chamada «canelas» ou «canelons» e que não tinha este aspecto.
Uma outra doçaria de nome «canaule» era feita por «canauliers» de Bordéus desde o século XVII, tendo havido mesmo uma corporação de artesãos, registada em 1663. Não faziam parte da Corporação de Pasteleiros uma vez que não lhes era permitido usar leite e açúcar, pelo que a sua massa seria mais do tipo pão. Estas características, que fazem parte do rigor com que eram encarados os Regimentos dos Ofícios, na época, mostram-nos também que a receita não era semelhante à actual.
Esta Corporação dos «Canauliers» cresceu até que a Revolução Francesa acabou com as corporações de ofícios. Mas a profissão manteve-se com um número cada vez menor de artesãos e no século XIX tinha já desaparecido.
Foi no primeiro quartel do século XX que reapareceram os canelés, por mão de
pasteleiro não identificado. Foram-se divulgando, mas apenas em 1985 o nome «canelé» foi registado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial de França.
Hoje o canelé está em todo o lado em Bordéus. Chegamos ao hotel e temo-lo ao pequeno almoço. No intervalo para café surge no meio de outros bolinhos. Após as refeições, aparece-nos em miniatura, na chávena do café. A princípio achamos graça, depois enjoamos.
Uma das lojas mais conhecidas de Bordéus, a Baillardran, tem só nesta cidade 9 lojas de venda. E para além destas, outras tantas em várias cidades, incluindo Paris. Tem um aspecto cuidado e a apresentação dos doces é irrepreensível. É também aí que se podem adquirir as atractivas forminhas.
Mas existem lojas de outras marcas, menos visíveis, formando uma rede de venda de milhares de «canelés». Os bolos em si são pouco interessantes, para o meu gosto. A consistência um pouco borrachosa e o sabor a baunilha e a uma bebida de difícil identificação, não me entusiasmaram grandemente. A minha opinião parece única. O seu sucesso é enorme.
Fiquei a pensar nos nossos doces regionais, em contraponto, sempre tão mal divulgados e na sua grande maioria de tanta qualidade.
À excepção dos «Pastéis de Belém», hoje vendidos em embalagens atractivas, os nossos doces vendem-se em caixas simples e a sua divulgação muitas vezes não ultrapassa a área regional.
É tempo de aprendermos com estas lições e fazer um esforço de marketing. Não acham?.
4 comentários:
As coisas que eu aprendo aqui neste Blog...
De facto, parecem chiquíssimos, mas poucos apetitosos.
rita
Os franceses, se por acaso lessem o meu blog, não iam gostar nada.
Provei este ano caneles e adorei! Troxeram-me forminhas de silicone e um postal com a receita. Já os fiz e ficaram maravilhosos mas têm a desvantagem de terem que estar perto de 2 h no forno . Como a forma só traz 6 forminhas incorporadas saem carissimos em electricidade!A bebida misteriosa é o rum!
Eu comi. Que decepção. Pobre bolinho tão famoso e completamente sem graça. Tbm sou mil vez um belo doce Português. Abraços do Brasil
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