terça-feira, 19 de abril de 2022

Museu virtual: Molheira

 

Descrição: Molheira de forma oval com pequena base e asa ao nível do bordo superior, achatada, horizontal. Tem colher cuja pega termina em cabeça de cisne. Colocada na zona oposta à asa, faz com o corpo, o desenho de um cisne.

Material: Gallia. Liga de metal de cobre-estanho, coberta de prata por técnica de galvanoplastia.

 Época: década 1930-1940 (Art Deco).

 Marcas: Christofle e Gallia.

 Origem: adquirido no mercado português.

 Grupo a que pertence: equipamento culinário.

 Função Geral: Servir à mesa.

 Função Específica: apresentar o molho à parte.

 Nº inventário: 4566

 Objectos semelhantes: Não classificados.


Observações:

A molheira Cisne foi desenhada nos anos 30 por Christian Fjerdingstad para a linha Gallia da Christofle. Christian Fjerdingstad (1891-1968) foi um designer dinamarquês dos mais famosos, célebre pelas linhas sóbrias de estética Arte Deco.

Começou como aprendiz de um ourives regional, mas quando descobriu o trabalho de Georg Jensen, ficou fascinado e partiu para Copenhaga para aprender com ele. Após a Primeira Guerra Mundial, onde ficou gravemente ferido, estabeleceu-se em França. Tomou conhecimento com o movimento Art Deco e adoptou essa estética em várias peças, priveligiando os novos materiais, isto é, as novas ligas de prata.

Em 1924, a empresa Christofle, uma das principais do modernismo, encomendou-lhe uma nova colecção. Esta seria um sucesso presente na exposição de 1925, com trabalhos em prata, a que associou componentes naturais. Nessa Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, que teve lugar em Paris, os seus trabalhos estiveram ao lado dos de Jean Puiforcat, Georg Jensen, que havia sido seu mestre e Gérard Sandoz.

Fjerdingstad comercializou objectos estilizados, de luxo, em metal prateado com a marca Gallia e trabalharia em parceria com a Christofle até 1941. Este período correspondeu ao apogeu de ambos e as peças por ele desenhadas tornaram-se muito procuradas pela pureza das suas linhas. 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

quinta-feira, 7 de abril de 2022

A Padaria Caruncha no Porto


Tudo começou com uma factura bonita mas que se veio a revelar, para além disso, muito informativa.

Vejamos em primeiro lugar o que nos diz essa factura. A proprietária Maria Nogueira Caruncha é identificada no cimo do cabeçalho, mas a existência deste estabelecimento era antiga: a casa fora fundada em 1785. Em 1903, de acordo com o mesmo documento, situava-se na Rua de S. Lázaro, 397-391 e tinha uma filial na Rua de Cima de Vila, 86-88, no Porto.

A mesma anunciava que vendia: ”Pão fino especial, bolacha e biscoito”.

E devia ser de qualidade porque não era qualquer um que aí comprava. Esta factura enunciava a venda de pães de todo o mês de Dezembro de 1903, de 382 pães vendidos ao sr. J. Pinto Leite. Francisco Queiroz publicou um artigo na revista O tripeiro[1] intitulado “Os Pinto Leite. Uma família influente no Porto Romântico” em que falava sobre o seu papel como negociantes no Brasil, no Porto, em Lisboa e em Inglaterra. Eram vários irmãos e o mais velho, Joaquim, foi quem mandou construir no Porto uma das casas mais importantes da arquitectura do século XIX: a Casa do Campo Pequeno. 

Palacete Pinto Leite no Porto

Nesta data não sei se a Maria Caruncha era viva mas num anúncio publicado em 1881 no jornal O indicador[2] à antiga Padaria da Caruncha surge o nome de João Marques Pereira. Este meu homónimo nalguns locais vem designado como “Caruncho”, não nos tendo sido possível perceber se adquiriu este nome por filiação ou se por ter adquirido a padaria com esse nome, tomando a alcunha de empréstimo.

Publicidade no jornal O indicador. Fonte: Blogue"Comer por escrito"

Sabemos apenas que João Marques Pereira foi um abastado proprietário que fez fortuna na indústria da panificação. Era dono da Padaria Bijou situada na Rua Duque de Loulé, esquina com a Rua Alexandre Herculano, no Porto. Em Março de 1898, pediu uma licença para edificar nesse local uma padaria, que seria inaugurada em 1902, com a designação referida.

Padaria Bijou. Foto Google maps.

Em 1906, pediu para construir nos seus terrenos anexos um armazém destinado a depósito de farinhas.[3]

Em 1909, apresentou à Câmara do Porto o licenciamento para a sua casa de habitação no mesmo local. Em 15-7-1910, devendo correr-lhe bem a vida,[4] solicitou novo projecto de alterações à construção da sua habitação própria, destinado a ampliar o projecto, tornando a casa mais rica, sobretudo a zona do hall de entrada.

Ambas as construções continuam a existir no Porto e a qualidade do projecto[5] fez com que em 2018 fosse apresentado à Câmara um pedido de classificação do conjunto do Palacete Bijou, numa tentativa de protecção do edificado.

Bem ficamos por aqui. Esta beleza de factura acabou por me dar mais trabalho do que esperava. Acho que vou comer um bijou.

 


[1] Nº 7, Julho de 2207.
[2] Publicado no blogue “Comer por escrito”.
[3] Licença de obras pedida por João Marques Pereira, em 17 de Jan de 1906
[4] Em 1914 o João e Arlindo Marques Pereira Caruncho pediram uma licença para edificar no Porto uma outra padaria na Av. Rodrigues de Freitas, 373, na freguesia da Sé. E, em 1916, um Fernando Marques Pereira pediu também uma licença para a construção de um edifício para padaria na Rua da Cedofeita, nº 340, fazendo-nos pensar que a família se dedicaria a este ramo de negócio de forma mais extensa.
[5] Da autoria do arquitecto Eduardo da Costa Alves Júnior (1872-1918).