Foi a beleza das imagens de
uma pequena caixa de comprimidos que me atraiu. É uma amostra para ensaio
clínico que era oferecida aos médicos. Quando um medicamento novo saía eram
oferecidas algumas caixas aos médicos para darem aos doentes, permitindo-lhes
ficar com informação directa sobre o seu efeito. Há alguns anos isso foi
proibido, o que não me apetece comentar.
Este medicamento, o
dimenidrinato, tem uma longa história e ainda hoje é utilizado. Criado em 1947
por 2 investigadores do Johns Hopkins Hospital, Lesley Gay e Paul Garliner,
revelou-se logo eficaz como anti-emético. Antes porém de comunicarem a sua
investigação fizeram um estudo, em 1948, no final da II Guerra Mundial, em
colaboração com a Marinha americana, nos marinheiros do navio US Navy. A
chamada «Operação enjoo» abrangeu 1376 soldados americanos divididos em dois
grupos. Os que tomaram o medicamento não enjoaram na longa viagem de Baltimore para
Bremerhaven, na Alemanha.
Confirmada a sua eficácia os
autores publicaram os resultados e a partir de 1949 o produto era
comercializado.
Não sei dizer quando foi
introduzido em Portugal porque o seu registo foi muito tardio. Foi
comercializado pelo Instituto Luso-Farmaco, que foi constituído em 1948 por António
Diogo Bravo e Miguel Cocco. Na embalagem vem identificado
como único depositário: Paulo Cocco, Lda.
Em 1964 era construído um novo
edifício da autoria de Carlos Tojal e Carlos Roxo, na Rua do Quelhas, 8, em
Lisboa. O edifício moderno e luminoso apresentava painéis de azulejos da
autoria de Sã Nogueira alusivos a temas farmacológicos. Guardo dessa local boas
recordações do meu tempo de jovem médica.
Painel de azulejo exteior de Sá Nogueira. Foto do site SOS Azulejos |
Possuía um “Centro de
Documentação” que era o melhor de Lisboa. Nenhuma Universidade, Hospital ou
Laboratório se lhe comparava. Eu ia lá regularmente consultar as revistas
médicas que recebiam e fazer fotocópias. Foi aí que aprendi, com uma Bibliotecária
muito eficiente de que já não recordo o nome, o que era uma “Keyword” e a
importância da catalogação. Num pequeno caderninho, que ainda possuo, ia
registando as minhas leituras.
Foto da internet (wikimedia) |
Hoje o edifício foi transformado
em bloco de apartamentos, a empresa já não existe mas, extraordinariamente, o
medicamento ainda é comercializado, com o nome de Enjomim e de Vomidrine.
Quanto ao autor dos alusivos desenhos
da embalagem, ignoro quem tenha sido. Infelizmente apenas se encontra
representado o enjoo por mar e por avião. Indicado para todos os enjoos
ficou-nos a faltar os enjoos terrestres, como diz na bula. Devia ser igualmente
interessante.
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