Por três dias regressei à
minha terra para investigar um tema para o meu próximo livro. Instalei-me em
casa da minha amiga Cilinha que me deu todo o apoio logístico.
Durante três dias fomos
recordando as nossas histórias, algumas já meio esquecidas, muitas com graça,
outras não tanto, dependendo de quem as ouve. De uma recordação comum, que eu
gosto de contar, a Cilinha dizia-me: «Outra vez essa história!», com um tom de
quem já não a quer ouvir e eu tinha que abreviar.
Passeávamos pelas ruas da
Covilhã e identificávamos casas e dizíamos: «Lembraste? Aqui vivia fulana tal, nossa amiga». Lembrávamos o primeiro nome e o apelido já nos ia esquecendo. Na época em que estudávamos no Liceu, o nosso era um mundo feminino.
Nos primeiros anos as turmas não eram mistas e o recreio das meninas era separado
dos rapazes. À hora de entrada, no velho Liceu Heitor Pinto, os rapazes
encostavam-se às paredes, ou à porta do café e ficavam a conversar e a ver a
entrada das meninas.
Tínhamos os nossos percursos e
as nossas pastelarias de eleição, e claro, os nossos bolos preferidos, alguns
dos quais nunca mais souberam ao mesmo. Lembro-me de ir com a Cilinha a casa de
uma senhora que vivia ao fundo das Escadas do Quebra Costas comprar pequenos
biscoitos caseiros que ela fazia. Tentamos lembra-nos dos nomes, mas já
desapareceram da nossa memória e da memória dos covilhanenses.
Recordei alguns dos antigos
comeres: os pastéis de molho, pois
claro, que a minha amiga já tinha comprado e as deliciosas cerejas da Cova da Beira.
Trouxe comigo os Biscoitos de Azeite,
diferentes dos do Fundão, onde também os fazem. Ainda tão suavemente deliciosos
que rapidamente chegaram ao fim e as saudades fazem-me querer repetir a receita
aqui em casa. Vamos ver se não sou preguiçosa e se saem tão bem.
Biscoitos de Azeite da Covilhã |
À medida que envelhecemos os
amigos de infância vão sendo cada vez menos. E aqueles com que continuamos a identificar-nos
menos ainda. Por isso são uma pérola preciosa. Alguém que apesar das rabugices
inevitáveis nos transmite um prazer imenso, uma sensação de calor agradável trazida
pelas recordações da nossa meninice. Quando em comum existe um gosto pela
estética infantil, que soubemos manter e que rodeia o nosso dia-a-dia, tudo
fica mais fácil.
Obrigada Cilinha por
continuares a ser a menina que conheci no início da minha adolescência.
Relógio de cozinha, obra da Cilinha e um santinho da açúcar das feiras |
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