quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A publicidade ao peixe congelado

O Século Ilustrado 27-1-68
O meu primeiro encontro com o «peixe congelado» teve lugar nos anos 50 numa ida à Feira Popular em Palhavã. É possível que tivesse sido em 1956 porque me lembro de assistir aí à apresentação do primeiro programa de televisão. Contudo, a esta distância, posso estar a fazer coincidir na minha memória dois períodos distintos.

Fui com os meus tios que viviam em Lisboa e ficávamos num fila para experimentar uns quadradinhos de peixe que eram fritos com alho numa frigideira. Quando acabávamos íamos para o fim da bicha e repetíamos a cena despindo o casaco ou fazíamos outra modificação. Estes disfarces improvisados faziam-nos rir e durante anos contávamos esta aventura acrescentando alguns pormenores inventados como óculos ou bigodes para tornar a história mais engraçada.
Na realidade o que se pretendia então era divulgar o consumo do peixe congelado. Entre os anos 50-60 o abastecimento do peixe a Lisboa e depois ao país era feito pela SAPP (Serviço de Abastecimento de Peixe ao País) e da Gel-Mar. Em 1957 teve lugar a criação da Docapesca, uma empresa concessionária da exploração da doca de pesca de Pedrouços, que servia de «centro nacional de desembarque, venda e expedição do peixe» (Decreto-Lei n.º 40 764, de 7 Setembro de 1956). À sua frente estava o conhecido almirante Henrique Tenreiro.
Para aumentar o consumo de peixe (fresco e congelado) foram feitas várias campanhas. A publicidade apresentada no início do poste saiu do traço de José Pargana (José João Carvalho Pargana, 1928-1988), um caricaturista a quem se deve uma extensa actividade na área do futebol e do fado, mas que surge aqui a assinar este trabalho numa área completamente diferente. Os seus  primeiros desenhos foram publicados nos anos 30 no jornal humorístico Os Ridículos, para onde foi levado por Stuart e onde se dedicou ao cartoon desportivo.
Imagem tirada do blogue O Gato Alfarrabista
Na década de 30 desenhou as Caricaturas Desportivas, uma caderneta de cromos de rebuçados oferecida pela Fábrica Confeitaria Universo, de António E. Brito com sede em Lisboa. É também da sua autoria um cartaz publicitário à Adega Mesquita, fundada em 1938 por Domingos Mesquita e sua esposa a Ti Adelina como era conhecida nos meios do fado. Pragana frequentava essas casas de fado e foi amigo do fadista Marceneiro que também caricaturou, assim como muitos outros.
Em 1948 participou na primeira reunião de artistas, ouvintes, locutores e produtores de rádio que teve lugar no refeitório da Casa do Pessoal da Emissora Nacional, com um chá e distribuição de prémios à melhor caricatura de uma personalidade da rádio. O presidente da Casa do Pessoal, Hugo Vieira, entregou o 1º prémio de mil escudos a Maria Almira Medina e José Pargana, foi o segundo classificado. Sempre dentro da temática futebolística trabalhou para o jornal A BOLA. Na década de 60 Pargana desenhou uma colecção de carteiras de fósforos para a Sociedade Nacional de Fósforos - Lisboa, composta por 90 carteiras.
Imagem tirada da net
Esta fixação nestes temas tornam mais surpreendente a sua intervenção nestas campanhas da SAPP. Não foi contudo o único e ainda no ano de 1967 foi publicado pela Agência Portuguesa de Revistas vários livrinhos infantis que promoviam os produtos da SAPP onde se destacam títulos como: O Piano da Dona Corvina e A Menina Pescadinha é Espertinha. Os textos eram de José Oliveira e as ilustrações foram feitas por José Batista e Júlio Amaro entre outros.
A televisão começava então a impor as suas ideias e a publicidade ao peixe congelado tomou tempo de antena com filmes bastante ingénuos e infantis como se pode verificar neste exemplo. 

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