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Réplica do que poderá ter sido o "talher de D. João V". Foto João Oliveira Silva |
“Talher” é a designação
portuguesa de cadinet ou cadenas que encontrei num documento em
que se descreve o banquete de casamento de D. João V em 1708.
Publiquei esta informação no
meu livro «Mesa Real» e, até então, desconhecia-se o seu uso na corte
portuguesa. Toda a descrição do banquete é de grande interesse mas foco-me aqui
nos “talheres”, tomados como designação lata. Estes foram trazidos pelos
Reposteiros da Câmara em pratos grandes dourados os Talheres Reais quadrados de
S. Majestades, e os redondos ordinários de S. Altezas.
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Cadinet com guardanapo em flor de nenúfar para o pão |
A descrição pormenoriza:
"Virão os Talheres Reais preparados com sal, açúcar e pimenta nos lugares
que para isso tem: e no do pão se põe por baixo um guardanapo liso em forma
quadrada de sorte que não transborde o talher, e por cima dele o pão com a
faca, colher, garfo e dois palitos, coberto tudo com um guardanapo levantado,
cujas dobras hão-de ser muito finas»[1].
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Cadinet de Guilherme III, 1688, Royal Collection, Londres |
Não existe em Portugal
qualquer exemplar de cadinet que, tal
como noutros países, foram derretidos. O mesmo aconteceu em França, onde, os que
existem são mais tardios, do século XIX e encomendados por Napoleão, que
desejava retomar o esplendor do ritual da mesa real.
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Cadinet feito em Augsbur, 1718. V&A Museum |
Os ingleses, mais
conservadores, mantiveram vários exemplares e foi um deles, o do rei Carlos II
de Inglaterra, casado com D. Catarina de Bragança que tomei como modelo.
Para a exposição sobre o pão
na mesa do rei, que esteve a meu cargo, e que se pode ver em Mafra no Festival
do Pão até dia 15 de Julho, concebi o que poderia ter sido o cadinet do rei D. João V, com as suas
armas na base e mandei efectuar um exemplar.
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Pormenor da parte horizontal do cadinet com o guardanapo levantado |
Tal como na época coloquei um
guardanapo dobrado na parte horizontal e sobre este um outro levantado, para o
caso em flor de nenúfar, que permite uma visualização do pão que aqui se
pretende realçar.
Ficou lindíssimo e penso que
só por si merece uma visita à exposição. Depois não digam que não avisei.
[1] Pereira,
Ana Marques,
Mesa Real. Dinastia de
Bragança, Lisboa, Esfera dos Livros, pp. 65-75.
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