sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Objecto mistério Nº 56. Resposta: Aquecedor de pratos (Rescaldeiro)

 
O português é uma língua riquíssima mas quando se trata de termos técnicos temos dificuldade em encontrar a palavra certa. Quando dizemos «aquecedor de pratos» referimos-nos ao pratos ou travessas com iguarias, colocados sobre a mesa e destinados a mantê-la quente. Temos também a palavra «rescaldeiro» que seria muito adequada, mas que raramente é usada[1].
Depósito na parte inferior destinado a colocar álcool.
Na realidade existem outros aquecedores de pratos, do tipo móvel, que eram colocados à frente da lareira e que permitiam manter a comida quente. Modernamente os aquecedores de pratos são eléctricos, destinam-se a aquecer os pratos antes de irem para a mesa e são usados quase exclusivamente na restauração.
Os franceses chamam a estes objectos réchaud de table ou chauffe-plats. E na ausência de palavra adequada em português adoptámos também a expressão «réchaud» para utensílios com este fim e a de «prato-réchaud» para os pratos de parede dupla em que se introduz água quente para manter os alimentos mais tempo aquecidos.
Foto tirada da internet
Os franceses designam os pequenos aquecedores de formas variadas em que o aquecimento é feito por meio de brasas, de álcool, água quente ou mais modernamente eléctricos «chaufferette, quando se destinam a aquecer partes do corpo. Para estes temos as palavras escalfeta, botija, aquecedor de mãos, rescaldeiro, pelo menos.
Foto tirada da internet
Este tipo de réchaud ou aquecedor de mesa que serviu de objecto mistério começou a sua divulgação no século XIX, sobretudo nos países mais frios. Este modelo foi um dos primeiros deste tipo, e foi concebido por Mr. Cavaillé, que tinha fábrica em Paris no Boulevard Poissonière, 21. Foi registado em 10 de Outubro de 1902. É provável que tivesse saído da mesma fábrica referida numa tese francesa sobre fabricantes de bronze em 1839-1870 onde surge descrito como fabricantes de tubos de orgão. Nesse mesmo estudo há referência a um litígio entre uma fabricante chamado Boulonnois que se queixou, em 1857, de a firma Allez Frères ter copiado o seu modelo de chaufferette. Desconheço contudo se era semelhante à concebida por Mr. Cavaillé.
No início do século XX existiam várias marcas como esta, a «La Frileuse», mas também a «Cendrillon »; « La Parisienne»; « La Chauffeuse moderne » ou já nos anos 30 a «Thermoto».
Aquecedor de pratos dos anos 60, com velas, que uso frequentemente
Algumas serviam para aquecer os pés e uma idêntica à apresentada está registada num museu canadiano como aquecedor de pés. Dadas as dimensões (os pés ficariam de fora e as escalfetas são sempre maiores) e o facto de ter encontrado um exemplar que apresenta acoplado um aro para colocar o prato, penso que se confirma a resposta dada a este novo desafio, que muitos acertaram.




[1] António de Moraes Silva no Diccionário da Língua Portugueza de 1831, menciona esta palavra, mas não se encontra na edição de 1789. Na realidade, nas grandes casas, durante o século XVIII, os pratos antes de chegarem à mesa eram aquecidos em pequenas fornalhas situadas perto das salas de refeições, pelo que os rescaldeiros só se devem ter divulgado no século XIX. 

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