O português é uma língua
riquíssima mas quando se trata de termos técnicos temos dificuldade em
encontrar a palavra certa. Quando dizemos «aquecedor de pratos» referimos-nos ao
pratos ou travessas com iguarias, colocados sobre a mesa e destinados a
mantê-la quente. Temos também a palavra «rescaldeiro» que seria muito adequada,
mas que raramente é usada[1].
Depósito na parte inferior destinado a colocar álcool. |
Na realidade existem outros
aquecedores de pratos, do tipo móvel, que eram colocados à frente da lareira e
que permitiam manter a comida quente. Modernamente os aquecedores de pratos são
eléctricos, destinam-se a aquecer os pratos antes de irem para a mesa e são
usados quase exclusivamente na restauração.
Os franceses chamam a estes
objectos réchaud de table ou chauffe-plats. E na ausência de palavra
adequada em português adoptámos também a expressão «réchaud» para utensílios
com este fim e a de «prato-réchaud» para os pratos de parede dupla em que se
introduz água quente para manter os alimentos mais tempo aquecidos.
Foto tirada da internet |
Os franceses designam os pequenos
aquecedores de formas variadas em que o aquecimento é feito por meio de brasas,
de álcool, água quente ou mais modernamente eléctricos «chaufferette, quando se
destinam a aquecer partes do corpo. Para estes temos as palavras escalfeta,
botija, aquecedor de mãos, rescaldeiro, pelo menos.
Foto tirada da internet |
Este tipo de réchaud ou aquecedor de mesa que serviu
de objecto mistério começou a sua divulgação no século XIX, sobretudo nos
países mais frios. Este modelo foi um dos primeiros deste tipo, e foi concebido
por Mr. Cavaillé, que tinha fábrica em Paris no Boulevard Poissonière, 21. Foi
registado em 10 de Outubro de 1902. É provável que tivesse saído da mesma
fábrica referida numa tese francesa sobre fabricantes de bronze em 1839-1870 onde
surge descrito como fabricantes de tubos de orgão. Nesse mesmo estudo há
referência a um litígio entre uma fabricante chamado Boulonnois que se queixou,
em 1857, de a firma Allez Frères ter copiado o seu modelo de chaufferette. Desconheço contudo se era
semelhante à concebida por Mr. Cavaillé.
No início do século XX
existiam várias marcas como esta, a «La Frileuse», mas também a «Cendrillon »;
« La Parisienne»; « La Chauffeuse moderne » ou já nos anos 30 a «Thermoto».
Aquecedor de pratos dos anos 60, com velas, que uso frequentemente |
Algumas serviam para aquecer
os pés e uma idêntica à apresentada está registada num museu canadiano como
aquecedor de pés. Dadas as dimensões (os pés ficariam de fora e as escalfetas
são sempre maiores) e o facto de ter encontrado um exemplar que apresenta
acoplado um aro para colocar o prato, penso que se confirma a resposta dada a
este novo desafio, que muitos acertaram.
[1] António de Moraes Silva no Diccionário da Língua Portugueza de
1831, menciona esta palavra, mas não se encontra na edição de 1789. Na
realidade, nas grandes casas, durante o século XVIII, os pratos antes de
chegarem à mesa eram aquecidos em pequenas fornalhas situadas perto das salas
de refeições, pelo que os rescaldeiros só se devem ter divulgado no século XIX.
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