Há muitos anos atrás visitei
um ferro-velho à entrada de Évora, de que algumas pessoas dessa cidade ainda se lembrarão. Situava-se
junto a um dos arcos de entrada e infelizmente esqueci o seu nome. A loja encontrava-se
cheia dos artigos mais diversos e curiosos. Na altura chamou-me à atenção uma máquina com
duas pás, em ferro, para fazer hóstias. Infelizmente não o comprei, mas achei-o
suficientemente interessante para tirar uma fotografia ao proprietário com o aparelho
ma mão. Não consigo encontrar a fotografia, que seria adequada para apresentar agora, e na vez seguinte que voltei a Évora a loja já tinha fechado.
Imagem tirada da internet |
Esta memória foi-me suscitada
pela oferta que a minha amiga Conceição me fez de Cacos d’hóstia. Trata-se de restos partidos das placas de hóstia
feitas no Instituto Monsenhor Airosa (IMA), em Braga. É nesta instituição
social, fundada em 1869 pelo padre que lhe viria a dar o nome e transferida em 1879
para o extinto Convento da Conceição, que são feitas estas hóstias.
A venda
destes fragmentos, que só começou a ser feita em 2016, reverte a favor da
instituição. Antes os restos eram oferecidos, talvez por se achar que um
produto destinado à Eucaristia não devia ter um fim comercial. Mas as hóstias
só depois de consagradas na missa se tornam sagradas, assumindo o sentido do
corpo de Cristo. Antes são, segundo o conceito católico, placas de obreia.
Fabrico de hóstias em Ponte Nova no Brasil |
Quando eu era pequena frequentei
na Covilhã a chamada escola da Maria Gabriela. Era uma escola privada que tinha
uma pequena capela. Um dia um dos alunos comeu todas as hóstias destinadas à
missa do dia seguinte. Grande escândalo!. A dúvida era se este acto representava
pecado ou não. A conclusão foi de que fora um furto por gulodice, não sendo um
acto pecaminoso pelas razões anteriormente referidas.
Partículas de hóstias com Lemon curd |
Acresce-se outro aspecto
importante. Desde 1999 que na Oficina das Hóstias da IMA são fabricadas hóstias feitas
com farinha de trigo sem glúten. Este aspecto permite o seu consumo por crentes
com doença celíaca e facilita a sua exportação para vários locais do país e para
o estrangeiro.
Agora só falta provar os cacos d’hóstia ou os pedaços de placas
de obreia que durante séculos foram a base para tantos doces, em especial os de
ovos.
2 comentários:
Muito bem , Ana! Os cacos elevados à cultura, quando o ritual não os elevou ao sagrado...
Conceição,
Uma confirmação da lei de Lavoisier. Nada se perde, tudo se transforma! Bj
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