terça-feira, 4 de junho de 2013

Os diáfanos Pastéis de Tentúgal

Este doce conventual nasceu no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em Tentúgal. Fundado em 25 de Março de 1565 por acção de D. Francisco de Melo, 2º Conde de Tentúgal, integrou freiras da Ordem das Carmelitas Calçadas. O seu património foi saqueado durante as invasões francesas e em 1834 foi extinto, tal como os outros conventos. Contudo as freiras mantiveram-se nele até 1898, altura em que faleceu a última freira.
O fabrico e venda de doçaria para a sociedade civil foi sempre uma boa fonte de rendimento dos conventos e a fama destes pastéis vêm de longa data. A sua apreciação foi exaltada em poemas e em prosa em várias obras[1].
Em que data iniciaram a produção dos pastéis de Tentúgal não se sabe, mas é curioso que seja referida a existência nesse convento de uma «porta da farinha», alusão ao local de entrada desta, o que faz supor a aquisição de uma quantidade importante deste produto[2]. Podemos deduzir que se destinava, pelo menos em parte, à confecção dos seus doces.
Na realidade a farinha de trigo, bem alva, tem um papel importante no pastel de Tentúgal. Necessita de ser fina e bem peneirada, embora o mais difícil seja trabalhá-la, actividade que exige vários anos de experiência.


Após a extinção do convento uma das pessoas que aí exercia funções para as freiras Maria da Conceição Faria (1851-1940) começou no exterior o fabrico deste tipo de pastéis, a que se seguiu a sua filha Branca Faria Delgado. Com a morte desta suspendeu-se o fabrico mas outros pasteleiros se seguiram e hoje existem várias casas comerciais com esse fim, que se agregaram numa Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal[3].
O fabrico dos ovos moles
Visitei o fabrico deste pastel na Casa Afonso e pude verificar a mestria exigida às pasteleiras para a produção da diáfana massa.
Começando com um disco de cerca de 50 centímetros a massa vai sendo esticada até atingir a finura que lhe é própria. O movimento dado à massa, provocando ondas manualmente ou com auxílio de panos, ajuda o ar a torná-la mais branca e fina. No final a massa assemelha-se a um papel vegetal que ocupa todo o pavimento da sala e que é recortado em feitio de leque ou meio círculo para formar os “tubos” ou as “meias luas”.
A confecção do pastel
É depois recheado com ovos moles, colocados sobre a massa que é enrolada e colada com manteiga derretida pincelada com uma pena de ave. O calor do forno aloura as pontas levantadas que se derretem depois na boca.
Este ano o pastel obteve o desejado estatuto de indicação geográfica protegida[4] e os 200 pasteleiros que trabalham nesta área, ficaram mais seguros. O mesmo se pode dizer dos consumidores que saboreiam este delicioso doce conventual.



[1] O Pastel de Tentúgal na Literatura, Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal, 2013.
[2]Referida a propósito do “encerramento das grades às Avé-Marias e da porta da farinha”, Capelo, Ludovina Cartaxo, Convento de Nossa Srª do Carmo de Tentúgal, Coimbra, Arquivo de Coimbra, Inventário 2007, Anexo 3.
[3] Presentemente presidido por Olga Cavaleiro, que nos mostrou com entusiamo o fabrico do pastel.
[4] D.R., 2ª série, nº 209 de 31/10/2011 (pedido).

2 comentários:

José Leite disse...

D. Ana Pereira

Na minha modesta opinião, melhores que estes só os "travesseiros" da Periquita em Sintra.

Os meus cumprimentos

José Leite

Ana Marques Pereira disse...

José Leite,
Para apreciadores de doces de ovos,como eu, o difícil é dizer o que gosto menos. Cumprimentos