Quando na última semana comprei no Mercado da Ribeira mexilhão para cozinhar lembrei-me da imagem da preta vendedeira de mexilhão.
Foi uma das extintas profissões de Lisboa. Os negros escravos trazidos para Portugal começaram, pelo menos a partir do século XVI, a exercer a venda de comestíveis pela cidade de Lisboa.
Em 1620 quando foi publicado o Livro da Grandezas de Lisboa, da autoria de Frei Nicolau de Oliveira, este quantificou em mais de 200 o número de «negras que vendem pela cidade toda a sorte de marisco de concha e legumes cozidos.»
Preta que vende pelos logares de Lisboa Mexilhão
Macphail Lith de M.L. da Cta. R.N. dos Mtes. [c.1842]
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Temos que imaginar que as condições das cozinhas da população em geral não permitiam que nelas fossem efectuados grandes cozinhados. Daí a profusão de vendedores ambulantes que percorriam a cidade logo pela manhã. A fava rica, o grão de bico, o cus-cuz, o arroz doce, o mexilhão, o berbigão e outros pratos já cozinhados facilitavam a vida dos habitantes. Até ao final do século XIX continuou esta actividade representada em litografias da época.
A venda de vários elementos úteis no domicílio e a de produtos alimentares não cozinhados como o peixe e as galinhas faziam igualmente parte destas actividades e essas mantiveram-se até meados do século XX.
As vendedeiras de mexilhão cozinhado com azeite, alho, cebola e colorau, punham um tacho dentro de uma celha de madeira ou de uma cesta de palha que cobriam com um pano branco e colocavam-no à cabeça. Pelas ruas gritavam: «Éérri éérre, mexilhão! pró petisco do patrão!», os clientes afluíam e o almoço ficava garantido.
4 comentários:
Adoro estas tradições, profissões antigas, roupas antigas... :)
Quélih,
Voltarei a este tema com outras profissões.
O RR do pregão refere-se, certamente, à regra do consumo apenas nos meses com R, com origem em édito na França do séc. XVIII, ao que parece, para impedir intoxicações com ostras estragadas pelo calor.
Mario Berberan,
É engraçado que apesar de conhecer a preferência de consumo nos meses com R, não tinha percebido a ligação desta ideia com o pregão. Obrigada.
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