A ordem de São Benedito defendia o trabalho manual como complemento do tempo dedicado à devoção. Essa actividade, concentrada no espaço conventual, na cerca e nos campos circundantes centrava-se na agricultura para sustento das necessidades próprias, uma vez que a regra estabelecia também o preceito de autonomia. Com esse fim era cultivado o horto e o pomar. Um terceiro espaço de jardim, o herbário, era contudo fundamental para a cultura de ervas para fabricar os medicamentos a administrar aos enfermos. Com a introdução da destilação nos conventos possibilitava-se a produção de licores medicamentosos e, mais tarde, dos licores usados por prazer.
A associação dos licores aos monges tornou-se indissolúvel e cedo foi compreendido como um bom argumento de venda. Mesmo quando, no século XIX, a publicidade dava os primeiros passos, um homem de grande visão utilizou esse argumento para vender o seu licor. O seu nome era Alexandre o Grande, um comerciante de bebidas que, com a ajuda de um químico inventou o licor «Bénédictine» e uma história que nunca foi provada.
Segundo ele, em 1863, descobriu um manuscrito de 1510 saído das mãos de um monge, Bernardo Vincelli e que há muito se encontrava na posse da sua família. No seu interior estava a receita de um licor fabricado na abadia de Fécamp, abadia beneditina, que havia sido destruída durante a revolução francesa. Após várias tentativas conseguiu a reprodução desse licor, feito com 27 ervas.
O fabrico iniciou-se no seu próprio palácio em Fécamp, um edifício ao gosto da época, de grandes dimensões, feito para albergar a fábrica de licores e a sua colecção de obras de arte. Para o decorar foram encomendados vários vitrais com temas alusivos ao licor Bénéctine.
Pormenor de uma ementa do Hotel L'Europe em Lisboa
Este licor foi introduzido no nosso país em 1894, data em que foi registada a marca no Boletim da Propriedade Industrial.
Este tema da associação dos monges ao licor foi também usado em Portugal. Um dos exemplos foi a Fábrica Âncora que numa publicidade ao licor «Fraditine», publicada no Anuário Comercial de Portugal, em 1959, usou a mesma temática.
Uma receita que resulta sempre bem, como já tinha descoberto Alexandre o Grande no século XIX.
3 comentários:
Eu tenho uma garrafa desse licor!! : )
Obrigada. Não conhecia a história
Boa tarde. Eu tenho uma garrafa antiga de licor "Fernanditine". Alguém sabe alguma informação sobre este licor produzido por G.Fernandes, Lda?
Francisco Miguel,
Fiz uma pesquisa exaustiva das fábricas de licores antigas para o meu livro sobre licores, mas não encontrei menção a essa fábrica. Já depois de publicado o livro tenho encontrado referência a outras fábricas pequenas, como deve ser o caso dessa. Sabe em que cidade era produzido?
Melhores cumprimentos
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